por Reginaldo Vilar Fontenele de Albuquerque*

A saúde é fonte de variadas discussões e entendimentos diferenciados, principalmente quando se trata de implementar ações que possam subsidiar resultados positivos.  Já que saúde é um direito de todos, é razoável discutir a participação dos homens, haja vista que as ações relacionadas à saúde masculina têm sido pouco abordada e discutida em contraposição à saúde da mulher, objeto de políticas públicas e de variadas investigações.

Ao discutirmos as políticas públicas de saúde voltadas ao homem – sexo masculino – queremos evidenciar que homens e mulheres necessitam e precisam ser vistos singularmente  no trato das relações sociais, pois, entendemos ser primordial ter a saúde como satisfação humana, ressaltando que, uma discussão sobre a mesma não pode ser restrita ao modelo de mulher/homem e saúde, mas sim, gênero e saúde.

Levando em conta diversas literaturas, bem como no entendimento de pessoas leigas, a população masculina vem sendo culpabilizada pelos danos causados à própria saúde. Destacar a saúde do homem, significa mostrar a necessidade e a importância de posicionamentos que enfoquem a saúde de forma igualitária, desde que tais posicionamentos não percam a perspectiva relacional entre os gêneros e não se distanciem da promoção da saúde, voltada para as necessidades humanas em geral.

Permanecer com o entendimento de que a saúde do homem não é interessante, é um grande risco para a saúde pública e para o próprio homem. O ônus de achar que o homem é um ser forte e heroico, além de não ser verdade, pode custar caro para o próprio homem.

O comportamento cultural do sexo masculino pode criar  dificuldades na adoção de práticas de autocuidado, pois à medida que o homem é visto como forte, viril, invulnerável e provedor, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança.

Apesar das altas taxas de mortalidade masculina e um peso significativo nos perfis de morbimortalidade, observa-se que a presença de homens nos serviços de  saúde é menor do que a das mulheres. Há indicações que os homens morrem mais do que as mulheres e mais cedo, por ser homem. O ser forte e invulnerável é acometido mais gravemente e, muitas vezes, por doenças que poderiam ser evitadas, caso houvesse assistência preventiva.

A ausência do homem nos serviços de saúde tem uma forte ligação com a cultura machista, haja vista que boa parte dos homens tem vergonha de expor o seu corpo perante o profissional de saúde, particularmente quando se trata de prevenção ao câncer – CA de próstata. Salientando que o câncer de próstata é a segunda causa de morte por câncer entre os homens, perdendo apenas para o de pulmão, lembrando que a maioria dos cânceres de próstata não causa sintomas até que atinjam um tamanho considerado.

A falta de atenção ao público masculino reflete em uma desqualificação dos homens para esta perspectiva assistencial. Nesse sentido, não se valoriza e nem se vê como pertinente que os homens sejam alvos de atenção e intervenções nos serviços de saúde, principalmente quando se trata de atenção primária, o que torna o homem invisível perante os sistemas de saúde, seja privado ou público.

Em sendo assim, necessário se faz que haja políticas públicas de saúde voltadas ao sexo masculino. Para tanto, é primordial pensar em estratégia e em organização que possam influenciar o homem a não caracterizar sua presença nos serviços de saúde somente no aspecto curativo, restaurador, ou seja, tardiamente recuperar sua funcionalidade. Conscientizar os homens da necessidade de ações preventivas em relação a sua saúde pode ser o primeiro passo para diminuir a sobremortalidade masculina.

A saúde do homem é um desafio para as políticas de saúde, onde se mostram visíveis as diferenças entre homens e mulheres quando se trata do seu acesso aos serviços de saúde. Sob o enfoque biológico, podemos citar uma maior predisposição para ocorrência de doenças graves, e no social, o sexo masculino tende a apresentar um comportamento mais arriscado, favorecendo condutas agressivas, fortalecendo o índice de mortes por causas externas.

O Ministério da Saúde – MS já reconhece, que os agravos do sexo masculino constituem problemas de saúde pública e isso já é um grande avanço, mas é preciso atrair a população masculina brasileira para a luta pela garantia de seu direito social à saúde, pois, conscientizar e sensibilizar os homens para o reconhecimento de suas condições sociais e de saúde é também exercer a prática dos direitos da cidadania.

Tratar a saúde do homem como um problema de natureza pública requer trazer a baila várias discussões, tais como: informação; articulação entre entes constitucionais e sociedade civil; qualificação de profissionais; avaliação do sistema de saúde com vista à participação do homem, dentre tantas outras.

Ações para assistir o sexo masculino, diga-se ainda no campo teórico, buscam romper os obstáculos que impedem os homens de frequentar os consultórios médicos. Relata o MS, que a cada três adultos que morrem no Brasil, dois são homens, aproximadamente, dados de óbitos referentes ao ano de 2005. Para  ano de 2014 a uma possibilidade que mais de 69 mil casos de câncer de próstata sejam diagnosticados no  Brasil, com aproximadamente 12 mil mortes.

É forçoso levar em consideração que garantir a saúde do homem, o acesso do mesmo nas instituições de saúde não é mero favor, que depende das vontades dos gestores de saúde, dos governantes, das mulheres e dos próprios homens, é uma obrigação constitucional, uma prerrogativa legal, um direito estabelecido, uma garantia de vida longa e bem-estar de todas as formas, pois a sobremortalidade masculina reflete no modo de viver não só no próprio homem, mas de toda a sua família.

Existe uma Política Nacional de Saúde do Homem, que foi implementada em 2009 de forma míope, pois quase nada foi feito para que as estatísticas relativas à mortalidade masculina se modifiquem. Deva-se isto, não só aos próprios homens, mas também pela falta de um processo de conscientização dos governos, que têm obrigação de garantir o acesso à saúde.

Considerando a alta mortalidade masculina em consequência do câncer de próstata foi criado na Austrália, no ano de 2003 o Novembro Azul e o dia 17 de novembro passou a ser o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata.

(*) Reginaldo Vilar Fontenele de Albuquerque é advogado, economista, mestre em Planejamento e Políticas Públicas pela UECE e integrante da Comissão de Controle e Gastos Públicos da OAB-CE.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).