por Vanilo de Carvalho*

Dentre os diversos gestos do papa Francisco, um deles teve um simbolismo ímpar. Na Turquia, ele pediu a Bartolomeu, patriarca Ecumênico de Istambul, da Igreja Ortodoxa, para abençoar a Igreja de Roma. Francisco e Bartolomeu I, sucessores de Pedro e André, recitaram o Pai Nosso em latim antes de concederem a benção.

O esforço de aproximação do papa não é um ato isolado. Em 1986, representantes das mais significativas tradições religiosas reuniram-se em Assis, na Itália, na Jornada Mundial de Oração pela Paz. Foi uma iniciativa do papa João Paulo II, no Ano Internacional da Paz declarado pelas Nações Unidas. Havia representantes do Budismo, Xintoísmo, Hinduísmo, Jainismo, Siquismo, Zoroastrismo, religiões africanas e ameríndias, Judaísmo, além de delegações cristãs das várias Igrejas Ortodoxas, das antigas Igrejas Orientais, Comunhão Anglicana, Velhos Católicos, da Igreja Metodista, da Federação Luterana Mundial, da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas, da Aliança Baptista, Menonitas e Quakers, dentre outras.

A reunião tem lugar de destaque no percurso do diálogo entre a Igreja Católica e as outras religiões. No Concílio Vaticano II (1962-1965), um dos textos conciliares, Lumen gentium, afirmava: “a Igreja Católica não rejeita absolutamente nada daquilo que há de verdadeiro e santo nestas religiões. Considera com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas”.

Ainda em 1963, o papa João XXIII, na encíclica Pacem in terris, dizia que a verdadeira paz se assenta em quatro pilares: verdade, justiça, caridade e liberdade. E pede aos homens que derrubem barreiras que os separam. Em 1964, o papa Paulo VI publicou a encíclica Ecclesiam suam, na qual é bem claro: “a Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio”.

Outro momento emblemático foi a visita de João Paulo II à sinagoga de Roma em 1986, quando pela primeira vez um papa entrou numa sinagoga. A Redemptor hominis é o texto que inspira todo o pontificado de Karol Wojtyla. Ele escreve que as mesmas atitudes que norteiam o caminho para a união dos cristãos devem ser tomadas relativamente “à atividade tendente à aproximação com os representantes das religiões não-cristãs”.

O teólogo suíço Hans Güng, quando veio ao Brasil, em 2007, faliou de um projeto de Ética Mundial. Para ele, as religiões e não “a religião” precisam dialogar para que essa ética mundial venha florescer. A Igreja Católica está dando passos concretos. Que o Natal inspire outras religiões neste mesmo caminho. A paz no mundo depende disso.

(*) Vanilo de Carvalho é advogado, diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA), professor universitário, especialista em Direito Constitucional, mestre em Negócios Internacionais e Confrade da Ordem de Malta.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).