Por Paulo Maria de Aragão*

Já faz muito tempo (e bote tempo nisso), mas ouvi alguém relembrar a frase mordaz que ainda não caiu no esquecimento: “Brasília é como uma colmeia. Metade fica voando e outra metade fica fazendo cera”. Com essa asserção, Paulo Maluf (agora ficha-limpa) ironizou a vida político-administrativa da Capital Federal, atingindo, indistintamente, a todos: bons servidores, os políticos e, com acerto, sanguessugas que abominam o trabalho. Estes, por não fazerem absolutamente nada têm como única preocupação o dia de pagamento.

Que infelicidade teve o deputado Maluf em estabelecer esta comparação entre servidores mandriões e as laboriosas abelhas melíferas! Ora, estas, como ensinam os apicultores e registram as enciclopédias, antes de existir o açúcar, já forneciam o mel. Formam, à parte, sociedades das mais evoluídas: uma só colmeia pode alimentar 75.000 abelhas, sendo que cada uma desempenha tarefas previamente determinadas e todas se auxiliam mutuamente. A apicultura é uma indústria condizente com o modismo da ecologia.

Organizadas em castas (a rainha, as operárias e os zangões), as abelhas demonstram apurado grau de organização societária. Fenômeno curioso é a expulsão e execução do zangão pelas operárias, o que acontece logo após o voo nupcial com a nova rainha da colmeia. Tudo dentro de um trabalho que não compromete a primorosa disciplina do conjunto.

Em Brasília, à exceção, há servidores laboriosos, a exemplo das abelhas. Há, no entanto, enxames que nada ou quase nada produzem. Preocupam-se em orbitar em torno da “rainha” e cortejá-la. Buscam instalar para si um “pequeno reino” dentro do reino maior. Nessa luta, as pretensas operárias voam e secretam a cera da indolência. Ao invés de adoçarem, amargam a boca do contribuinte.

Desse modo, as abelhas, paradigmas do trabalho nos dão o mel, enquanto as falsas operárias sangram os cofres públicos, desviando os recursos que deveriam ter como sagrado destino a saúde e o bem-estar coletivo.

(*) Paulo Maria de Aragão é advogado e professor, membro do Conselho Estadual da OAB-CE e titular da Cadeira de Nº 37 da Academia Cearense de Letras Jurídicas (ACLJ).

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).