por Vanilo de Carvalho*

“Não existem mães solteiras. Existem mães. Ser mãe não é um estado civil”. Esta frase, atribuída ao papa Francisco, revela a sua postura, o seu comportamento e o seu discurso, que entende cada ser humano igual em dignidade. Mais ainda: convida insistentemente ao acolhimento, principalmente em relação aos mais sofridos, vulneráveis e aos que constantemente são vítimas de preconceitos.

Na mesma linha, afirmou que “os gays não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade”, e que ele, o próprio papa, o chefe da Igreja Católica, não se sente em condição de julgá-los. E vai além, quando o tema é o preconceito racial: “é preciso superar o individualismo, o egoísmo, todas as formas de racismo, de intolerância e de instrumentalização da pessoa humana”.

Na contramão, observamos atônitos grupos que incitam ao ódio na sociedade na lógica de um neoconservadorismo que camufla o real interesse de seus atos, que é somente o proveito próprio e a usurpação de poder. A hipocrisia religiosa tomou-se ordem do dia. A ausência de escrúpulos nos discursos recheados de aberrações contra os direitos humanos e os princípios constitucionais de um Estado Democrático de Direito, na utilização das carências emocionais, principalmente dos mais pobres e menos letrados, choca os lúcidos.

Uma criança de 11 anos foi apedrejada na cabeça, no dia 14 de junho último, por discriminação religiosa. A revista Exame diz que o número de assassinatos de homossexuais no Brasil triplicou em cinco anos.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, tem sua base política fortalecida por líderes que exploram fiéis, numa relação onde o dinheiro transferido para seitas significa promessa de prosperidade pequeno-burguesa de curta duração.
Tristes tempos.

Fisiologismo de facção religiosa na estrutura estatal? Não se pode aceitar. Manipulação politiqueira no processo legislativo contra direitos fundamentais merece reação. Tais práticas, que atentam contra princípios universais, tão fortemente clamados pelo papa Francisco, com as quais muitas vezes nos deparamos, causam espécie.

(*) Vanilo de Carvalho é diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA) e professor de Direito.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).