O Brasil passa por uma das piores crises em relação ao seu povo. Não se trata da política. E nem da economia. Falo de algo essencial na vida de qualquer ser humano: vivemos hoje uma crise de esperança. Aquela mesma, que o senso comum acostumou-se a dizer que é “a última que morre”. Ela está no cadafalso e com a corda no pescoço.

Os governos petistas de Lula e Dilma, além dos seus erros de governança, explicitaram um mar de corrupção, cujas ondas, de forma ininterrupta, parecem atingir todos os níveis da esfera pública. A sensação que fica é que o único setor que trabalha no âmbito administrativo é a Polícia Federal e o Ministério Público, com apreensões e denúncias cotidianas.

O mais grave, porém, é perceber que o conluio de malfeitores extrapola os governos: a iniciativa privada age sofregamente da mesma forma, num moto-perpétuo que ruboriza até os mais indiferentes.

Mas não para por aí. A árvore da corrupção tem raízes profundas, com uma capilaridade que abrange as mais variadas instituições e indivíduos, muito além da política partidária. Todos os dias, observamos casos de cidadãos sendo assaltadas não só por marginais armados, mas por pessoas que cobram por consertos inexistentes, que superfaturam preços, que falsificam documentos e assinaturas, indivíduos que furam filas e estacionam em vagas de deficientes, só pra citar casos mais comuns.

Como pode não existir esperança num país de dimensões demográficas, geográficas, de riqueza e capacidade como as que temos? O que significa esta “crise de esperança”? Ao contrário da fábula de Hans Christian Andersen, não é somente o “rei que está nu”, mas todo cidadão brasileiro, que parece hoje viver no “estado de natureza” de Hobbes: lutando um contra o outro, tendo como base a lei do mais forte, de interesse puramente egoísta. Sem capacidade de conviver de forma cidadã, este povo, que apostou no Estado para lhe ditar regras precisas, percebe-se agora sem chão, quando enxerga o próprio reflexo no espelho enlameado do governo.

Vanilo de Carvalho, diretor executivo da Escola Superior da Advocacia (ESA).