No dia internacional de luta das mulheres, não temos muito o que comemorar no Brasil. Estamos assistindo a mais uma violência contra as mulheres refletida em uma reforma previdenciária prestes a ser aprovada, na qual se comete um verdadeiro retrocesso de direitos e avanços já conquistados ao longo dos anos pelas mulheres.

O momento é de protesto. O momento é de indignação. O momento é de se reivindicar contra as políticas misóginas, homofóbicas e racistas. Já está mais do que na hora de termos acesso à saúde, ao planejamento familiar gratuito e efetivamente aniquilar a desigualdade salarial, bem como a violência doméstica, a violência do mercado, a violência das políticas discriminatórias contra as mulheres lésbicas e trans, a violência do encarceramento em massa, a violência institucional contra os corpos das mulheres e da falta de acesso a cuidados de saúde.

Mata-se no Brasil uma mulher a cada uma hora e meia. Estamos falando de uma mulher violentada a cada 12 segundos. Estamos falando de cinco mulheres sendo espancadas a cada dois minutos. E tudo isso, com cerca de 80% de toda essa violência praticada pelos homens. Até quando vamos admitir que esses números se repitam? Até quando vamos aceitar que esta história continue sendo escrita desta forma? Não podemos mais admitir.

No Brasil, a Constituição de 1988 instituiu a plena igualdade de gênero, não deixando qualquer dúvida sobre os direitos e obrigações dos sexos masculino e feminino, e clarificando a proibição a qualquer forma de discriminação. Mas infelizmente essa igualdade entre homens e mulheres está longe do almejado. Hoje não vivemos falta de lei, não vivemos falta de norma, o que precisamos é concretizá-las.

Hoje, nós, mulheres, estudamos mais do que os homens. A participação das mulheres no mercado de trabalho é plenamente significativa, em que 38% das famílias brasileiras são comandadas por mulheres. Em nome de tudo isso, não podemos admitir que as mulheres continuem ganhando menos do que os homens. Não podemos admitir que as mulheres ocupem menos espaços do que os homens.

Não podemos nos orgulhar de nenhuma conquista enquanto ainda existirem mulheres sofrendo violência.

É hora de não fingir que aquela música depreciativa não está tocando… É hora de não admitir mais propagandas que nos exponham e que nos torne objeto de desejo alheio. A hora é de união. A hora é de luta, não só das mulheres, mas de toda a sociedade.

Roberta Vasques
Vice-presidente da OAB Ceará