O difícil momento vivido pela advocacia perante a crise política e econômica que deu protagonismo ao Judiciário brasileiro é fruto também da má formação oferecida aos profissionais do Direito. Muitos advogados deixam os bancos escolares sem saber exatamente seus direitos e prerrogativas, fazendo com que juízes e outras autoridades fiquem com mais poder do que deveriam, na avaliação de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro.

Em palestra na XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, em São Paulo, Santa Cruz fez uma autocrítica da advocacia e pediu reformas.

“É um momento de dramaticidade da história da advocacia. Antes de criticar o Judiciário, é preciso dizer que nós, advogados, estamos devendo também uma repactuação do que queremos como profissão. A capa da Veja é o ápice dessa visão deturpada. Nós deixamos perder o norte histórico do que é a advocacia”, afirmou o dirigente, em referência à capa da revista semanal que mostra como os novos milionários brasileiros, advogados que atuam nos desdobramentos da operação “lava jato”.

Aplaudido em diversos momentos do discurso, Santa Cruz fez longa autocrítica ao afirmar que a OAB precisa ainda evoluir na igualdade das mulheres, na garantia de espaço aos negros e na integração dos membros jovens, que pagam anuidade e têm direito a voto, mas não podem exercer cargos de direção por causa de uma cláusula de barreira.

Um dos pontos mais importantes, em sua análise, é a lógica mercantilista doo ensino no Brasil, que faz com que haja grande número de advogados no mercado, parte deles sem formação adequada.

“Colegas têm suas prerrogativas violadas também porque saem da faculdade sem nenhum preparo. Vão despachar com o juiz sem nenhum preparo. Temos que fazer a nossa autocrítica”, apontou. Para ele, quando advogados se colocam em posição de inferioridade, juízes assumem postura de divindade.

Felipe Santa Cruz propôs, como ações, retirar da OAB “quem não merece ser advogado”, citando a expulsão de 1,5 mil profissionais da OAB-RJ durante sua gestão, muitos por apropriação indevida de valores pertencentes a clientes. Propôs também discutir a fundo a qualificação da advocacia. E, por fim, acabar com a cultura de judicialização, que faz com que os tribunais pelo país estejam abarrotados de processos.

“Não vamos resolver tudo através do Judiciário. Não estamos sabendo ler o novo Código de Processo Civil. Temos que ter uma advocacia qualificada que evite conflitos, que solucione o litígio. Temos que ensinar que não somos criadores de caso. Tem que acabar com aquela história de ‘quero um advogado porque vou brigar’”. A ideia, diz, é que o cidadão precise do advogado para resolver seu problema, indicando a conciliação como o melhor caminho.