Em minha casa, mergulhado sobre papéis e anotações de décadas várias, enquanto me possibilita o tempo, pois já vivencio a primavera dos meus setenta anos, inspirado pela sonoridade da Música Popular Brasileira, na sua fase de ouro e pelo gorjear de alguns poucos pássaros no meu pé de goiabeira, puxo pela memória onde gravados estão, retalhos e nesgas de lembranças de fatos e episódios vividos na OAB-Ceará, INSTITUIÇÃO EXCELSA, que, apesar da minha pequenez, me atrevo a contar traços da sua exitosa história.

A história não é apenas o conhecimento do passado, também é, conscientemente, vivenciar os fatos do presente olhando para o porvir. Contar a história da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Ceará, em virtude da sua grandeza e importância, é missão árdua para qualquer pessoa. Para mim, quem sabe, haja gotas de facilidade, pois nós, eu e a OAB, caminhamos juntos há exatos meio século mais um ano.

Quando conheci a OAB no distante mil novecentos e sessenta e dois, contratado que fui pelo então presidente Roberto Martins Rodrigues, ela era uma jovem senhora de vinte e nove anos que, bondosamente, me adotou, por isso, talvez, não seja tão difícil contar traços da sua história. Volto no tempo e ainda sinto os primeiros contatos, vividos no quarto andar do antigo Fórum Clóvis Beviláqua, na Praça da Sé. A OAB era uma salinha de talvez, 30 metros quadrados, que abrigava a secretaria e a tesouraria, outra minúscula sala contígua que dava para outra mais ampla, onde se reunia o Conselho Seccional, naquela época, composto por vinte e quatro conselheiros. Naquele dia primeiro de agosto, recebia a sua carteira, o meu amigo Dr. Francisco Edson Urano de Carvalho, inscrição nº1.004.

Olhando-se para a OAB daqueles dias e vendo-se a OAB de hoje, embora octogenária, percebe-se forçosamente que ela se tornou um gigante e à sua sombra abrigam-se não só os advogados, mas a comunidade de modo geral. A OAB dos dias atuais não é mais só dos advogados. Ela (OAB) quebra todas as leis da natureza, pois quanto mais o tempo passa, mais ela se fortalece e se rejuvenesce. É o próprio poço da juventude.

A partir da criação da OAB tive o imensurável privilégio de conhecer e conviver com os primeiros advogados do Ceará. Vale a pena citar alguns deles com inscrição de dois dígitos. Antonio de Alencar Araripe (insc. nº02), Antonio Reinaldo Alves de Sousa (insc. nº 09, Clodoaldo Pinto (insc. nº 16), Dolor Uchôa Barreira (insc. nº 19), Dario Correia Lima (insc.nº 18), Estevam Mosca (inc. nº 26), Francisco Sabóia (insc. nº 28), Guilherme Sátiro Rabelo (insc. nº 33), Heribaldo Dias da Costa (insc nº. 36), José Martins Rodrigues (insc. nº 45), José Pires de Carvalho (insc. nº 53), Jáder Moreira de Carvalho (insc. nº 57), Lincoln Mourão Matos (insc. nº 63), Olavo Oliveira (insc. nº 66), Olinto Oliveira (insc, nº 67) e Raimundo Girão (insc. nº 71).

Naqueles longínquos dias, ainda se respiravam o glamour e o romantismo de uma era já no seu ocaso, que o tempo carregava os anos dourados. Por tudo isso, faço minhas as palavras do compositor popular, evidentemente que guardadas as devidas proporções, quando asseverou nos seus versos: “Na boemia da cidade/Gastei a minha mocidade/Minha louca fantasia/Foi assim me envelhecendo/Fiz de tudo que podia/E de tudo que eu fazia/Não me arrependo/Quando lembro que alegria/Quando conto me comovo/Sei que nada volta um dia/Mas eu juro que faria tudo de novo”.

Calvino Pereira da Silva

Servidor da OAB-Ceará desde 1º .08.1962