Antigo colega de trabalho praticava e defendia um viver surpreendente e discutível. Garantia que as pessoas seriam felizes e mais produtivas se possuíssem mil manias, mudassem de hábitos constantemente. Humorado, bonachão e de especial sociabilidade conquistava a benquerença de todos. Até a dos discordantes de suas esquisitices.

Cearense, radicado no Rio de Janeiro, por seu estilo de vida sentia-se carioca. Talvez isso haja concorrido para intensificar suas peripécias.
Não contava mês o surgir de novidade inusitada, comemorada em filosofice como benfazeja ao viver, mesmo julgada doidice pelos amigos.
Certa feita, empolgado com nossa estação de radioamador, decidiu falar com o mundo. A exigência de utilização do Código Morse e submeter-se a exames, no então Dentel, levou-o a comprar um pequeno transceptor e tornar-se radiocidadão, condição exigível de simples registro. Pouco tempo singrou nas ondas hertzianas.
 
O radioamadorismo cedeu lugar a uma criação de curiós. Logo, os pássaros foram substituídos por cachimbos. Depois, veio a pintura de telas, as ferramentas do “aprenda fazendo”, o telescópio para a astroscopia, o aeromodelismo e diversas sucessivas inventividades.
 
O sogro, conhecido médico conterrâneo, colecionava camisas e sapatos tamanhos 2 e 38, respectivamente. Duas dependências de seu apartamento no Leblon possuíam gaveteiros e prateleiras para dispor as peças. Nosso personagem discordava e, incoerentemente, criticava o colecionismo do pai de sua amada. Mas, nós, amigos de maior convivência, conhecíamos os motivos. As indumentárias da coleção jamais lhes serviriam. Afora o desgostar dos modelos, nunca os aproveitaria, pois usava camisas número 4 e calçados 43.
 
De recente estada em Brasília, encontrei-o. Aposentado. Igual alegria do passado. Sempre defensor do mudancismo. “Estava, motoqueiro”. Pilotava máquina de 750 cilindradas, equipada com acessórios diversos. Estilisticamente trajado. Calça, blusão, touca e botas de couro preto, com detalhes metálicos e, nas costas, o desenho de cintilante caveira. Grandes óculos escuros complementavam a neomania.
 
                                                                                                                                                                            *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.