De acordo com Valdetário Monteiro, presidente da secção Ceará da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a entidade decide amanhã, 17, o teor da interpelação judicial que será feita junto ao Tribunal de Justiça por conta da situação de insegurança no interior .

 

Valdetário adianta que serão citados o número insuficiente de policiais no Interior e será cobrada a imediata realização de concurso público para área. “O principal problema é o número diminuto de efetivo, principalmente em região fronteiriça”, avalia.

 

Segundo o presidente da OAB, a interpelação judicial será adotada em vez da ação civil pública, estudada em abril deste ano. “Decidimos pela interpelação porque ela trata de um contexto. A ação civil pública trata de um fato específico”.

 

Para Valdetário, desde que ficou acertada a interpelação, tem sido notada presença maior de policiais no Interior. “Em cidades como Tauá, os advogados dizem que há helicóptero sobrevoando e dando sensação de segurança”.

 

Estrutura precária para atender seis cidades nos Inhamuns

 

O clima de tranquilidade vem dando lugar ao medo. Assaltos a bancos, roubos de carga e homicídios têm mudado a rotina de quem mora no Interior. Na região dos Inhamuns, a falta de manutenção de viaturas e o baixo efetivo policial agravam a sensação de insegurança que se repete em muitos municípios do Ceará.

 

Nos municípios de Aiuaba, Parambu, Independência, Arneiroz, Quiterianópolis e Catarina, repetem-se cenas de carros quebrados ou em condições inadequadas para as rondas e destacamentos policiais sem condição para abrigar ninguém. Na Delegacia Regional de Tauá, falta espaço físico e computadores adequados para atender quem chega para registrar uma ocorrência.

 

Instalada num prédio antigo, o pátio da delegacia virou abrigo para sucatas de veículos apreendidos. Dentro, as salas são pequenas e as celas estão superlotadas. Um agente da Polícia Civil em Tauá que prefere não se identificar temendo represálias, disse que há apenas cinco servidores trabalhando na delegacia. São três agentes e dois escrivães responsáveis por cobrir área de seis municípios.

 

“A área é muito grande, e diariamente há inúmeras ocorrências. Há casos que, por força de pouco efetivo policial, deixam de serem investigados”, relata o agente que atesta o encalhe de inquéritos.

 

Quanto menos se investiga, maior é a incidência de novos delitos. Não à toa, o Governo do Estado criou a Divisão de Homicídios, que abrange a Capital e Região Metropolitana, como estratégia de combate à criminalidade.

 

Na região dos Inhamuns, porém, a impunidade em relação a esses crimes continua. De acordo com levantamento feito pelo advogado Valdonio Costa, da sub-secção da ordem dos advogados na região, nos últimos oito anos foram 40 homicídios na região. Do total, 35 não tiveram a autoria descoberta. “Só sabemos que morreu alguém, mas não sabemos quem mandou matar, quem executou”.

 

De acordo com o diretor do Departamento de Polícia do Interior, delegado Jocel Dantas, todas as delegacias do Interior tem número reduzido de servidores. Para ele, o problema só será solucionado com concurso público para escrivães e inspetores previsto para este ano.

 

Sobre o acúmulo de veículos na sede da delegacia regional, Dantas explica que não há depósito e que as apreensões sinalizam que a equipe de Tauá “está trabalhando muito”. Quando às investigações, o delegado garante que todos os crimes tem sido apurados. “Neste ano, nenhum caso ficou insolúvel”, garante.

 

ENTENDA A NOTÍCIA

 

A promessa de construção de 50 delegacias até 2010 não foi cumprida. Até agora, foram inauguradas 18. Outras oito estão em construção e 23 em obras. Falta de efetivo contribui para a migração dos crimes para cidades pequenas.

 

SAIBA MAIS

 

Em janeiro, O POVO mostrou que Parambu, nos Inhamuns, é a cidade líder no ranking de assaltos a ônibus no Ceará. Entre 2008 e 2009, houve sete roubos. Em segundo lugar ficou Senador Pompeu, com cinco.

 

Como resultado do trabalho da Polícia Civil, Jocel Dantas cita a desarticulação de uma quadrilha acusada de participar de um grupo de extermínio. O bando agia em Parambu e cidades vizinhas. Dos nove acusados, três foram presos.

 

Além da Delegacia de Tauá, a delegacia de Parambu, inaugurada em novembro de 2009, divide as investigações na região.

 

Fonte: O Povo (textos e foto)