Reajuste salarial, redução da jornada de trabalho, equiparação de salários, estabelecimento de Plano de Cargos e Carreiras, gratificações e melhoria das condições trabalhistas. As reivindicações, que não são novas, perpetuam-se por Fortaleza. Nos últimos quatro meses, pelo menos sete categorias profissionais interromperam as atividades. As paralisações impactam diretamente na rotina do fortalezense.

Professores, bancários, policiais, dentistas, bombeiros e garis, são alguns dos profissionais que, recentemente, manifestaram insatisfações. Atualmente, servidores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC) encontram-se em estado de greve. Os peritos do Sistema de Verificação de Óbito, os servidores e oficiais da Justiça e os agentes penitenciários estão em campanha por melhores condições de trabalho. Caso não sejam atendidas as reivindicações, estas categorias ameaçam cruzar os braços nos próximos dias.
 

A situação não é fácil. A busca pela resolução dos conflitos chega a situações extremas. Assegurado pela Constituição de 1988, o direito de greve, é vivenciado de forma intensa na Cidade. Seja no âmbito municipal, estadual ou federal, os grupos evidenciam desagrados, o que tem tornado sucessiva a paralisação dos trabalhos.

 

SALÁRIOS ACHATADOS
Para o vice-presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos do Município de Fortaleza (Sindifort), Eriston Ferreira, o achatamento dos salários dos servidores públicos, provocado pelas ações do Governo Federal frente à crise econômica mundial, é um dos motores do descontentamento. “Isso reflete na política municipal. Em 2009, a Prefeitura não reajustou os salários. O trabalhador acaba se desgastando. Tem uma hora que ‘chutamos o balde’”, argumentou.
O ciclo de greves, segundo Eriston, reflete a ineficácia da política econômica adotada pelos governos nos três âmbitos Ele acredita que a maior “disposição” dos profissionais a atitudes extremas como a greve, é justificada pela falta de medidas efetivas, das gestões, no atendimento das cobranças dos servidores.
“Tem muita conversa, mas pouca ação. Os trabalhadores sabem disso. A greve tornar-se então o único meio para ser ouvido”, completou.
Conforme o coordenador da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), José Batista, a série de greves já era esperada, devidos os ajustes implantados pelo Governo, que reduzem o pagamento de imposto das empresas, mas por outro lado, “sacrificam os trabalhadores”. “Uma hora ou outra as pessoas reagem”, acrescentou.
A greve dos policiais e bombeiros militares, conforme Batista, criou expectativas que impulsionaram outras categorias. “E o chamado efeito dominó. As pessoas vislumbram as soluções através da greve”, destacou. O coordenador defendeu ainda, que por mais que a população passe por algumas dificuldades, como a ausência de serviços, as reivindicações são melhor compreendidas pela sociedade atualmente.
 

 

ROTINA ALTERADA
O estudante de Geografia, Ícaro Arruda, concorda com o sindicalista. No entanto, apesar de ser solidário as paralisações, ele assegura que as mesmas causam prejuízo a sua rotina. “Eu não pude sair de casa com a paralisação da polícia, esta situação é ruim”, ressaltou.
Já o jornaleiro, Francisco Aragão, foi ao trabalho, mas não realizou a atividade habitual. Isto porque com as paralisações a presença do público diminui. “Quando não tem aula, os estudantes não passam aqui. Se não tem banco as pessoas não podem tirar dinheiro e sem polícia as pessoas não saem nas ruas”, contou. “E inadmissível que em tempos de democracia as negociações sejam tão difíceis”, lamentou o comerciante.

 

IDENTIFICAÇÃO
O cientista social, mestre em Políticas Públicas, Ricardo Moura, explicou que devido a sucessão de acontecimentos, os poderes executivos encontram-se enfraquecidos. De acordo com ele, a população, tende a solidarizar-se com aquilo que está mais próximo a ela. No entanto, a insatisfação com a postura do governo, tem levado o fortalezense a identificar-se com as reivindicações dos trabalhadores. “Em um outro contexto, as pessoas talvez não apoiariam a interrupção das atividades, mas nesse caso, observa-se maior adesão”, esclareceu.

EM GREVE
Categoria Tempo de paralisação
Professores da Rede Estadual 63 dias
Servidores dos Correios 28 dias
Bancários 21 dias
Polícia Civil 8 dias
Polícia Militar e Bombeiros 6 dias de greve
Garis 5 dias
Dentistas e Enfermeiros do Programa Saúde da Família 30 dias

ESTADO DE GREVE
Servidores Detran 7 dias
Agentes AMC 6 dias

AMEAÇAS DE GREVE
Peritos do Sistema de Verificação de Óbito
Servidores da Justiça
Oficiais de Justiça

Fonte: O Estado