No período mais crítico da Covid-19 no Brasil, constatamos a imprescindível necessidade de dialogar sobre o efeito tóxico do isolamento social provocado pela pandemia.

Desde março de 2020, especialistas previram quatro ondas pandêmicas: a primeira ocasionada pelo próprio vírus, a segunda pelas sequelas da infecção, a terceira pela ausência de tratamentos de doenças pré-existentes e a quarta pelo adoecimento mental.

Dados do Conselho Federal de Farmácia em parceria com a Consultoria IQVIA, mostram o aumento de 12% de venda e consumo de antidepressivos e estabilizadores de humor em 2019, comparado a 2018. Em 2020, cresceu 17% se comparado com 2019.

Embora a tendência da curva de crescimento do consumo de tais drogas fosse prevista em pesquisas, não se projetava elevada taxa em tão curto período.

Outro ponto que trazemos ao debate é o ranking dos referidos dados entre os estados da federação, onde o Amazonas desponta em primeiro lugar com 29% de progressão no consumo e venda de remédios controlados, ao passo que o Estado do Ceará crava os mesmos 29% neste quesito.

Segundo especialistas, os dados refletem a interferência direta da desigualdade social e econômica agravada pela vulnerabilidade da população de cada localidade, tendo como consequência o aumento da ansiedade e da depressão, gatilhada pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano de cada região.

Comprova-se tal premissa pela comparação do IDH de São Paulo e o percentual de aumento de consumo de psicoestimulantes, 0,783 (IDH 2017) e 16% (percentual de consumo de psicofármacos em 2020) , respectivamente. Já o Ceará ostenta o índice de 0,735 (IDH 2017) e 29% de aumento de consumo dos medicamentos em questão.

Fica o alerta para toda população brasileira, especialmente a cearense, quanto à responsabilidade em manter a saúde mental equilibrada. A empatia deve ser encarada como um dever, uma vez constatada mudança relevante de comportamento, tais quais alteração no sono, ansiedade patológica, consumo exagerado de álcool e outras drogas não se esquive de buscar ajuda profissional especializada para você ou outrem.

Clique aqui e confira o artigo publicado pelo jornal O Povo.

Vanessa Venâncio, presidente da Comissão de Políticas Públicas sobre Drogas da OAB-CE