Paulo Maria de Aragão (*)

Déspotas disfarçam-se e sempre se disfarçaram de estadistas, respondendo em todas as épocas pelas tragédias e desatinos da história. Dinheiro e poder, irmãos siameses, nas suas operações ofensivas, marcham de flanco em qualquer terreno e oprimem os que se lhe façam frente.

Adejam em círculos como abutres esfaimados, crocitando à cata de tudo que lhes dê proveito, bicando certeiramente na mosca dos orçamentos públicos e deteriorando estruturas do Estado. Distinguem-se das espécies detritívoras, extremamente úteis à sociedade, “garis da natureza”, fundamentais no equilíbrio do ecossistema. Voam em direções opostas.

Tenha-se que o dinheiro e o poder não são um mal em si. Mas enoja o lucro fácil e espúrio, obtido com o infortúnio de alguém, desviando verbas da saúde e da educação, além dos que recebem robustas comissões sem trabalhar. Fazer uso dessas afirmativas será demasiado?

A felicidade não está no linde entre o dinheiro e o poder, mas na satisfação de ações criadoras. Por isso, o povo está nas ruas, acreditando que porá termo à pilhagem do erário. Alentadoras são as manifestações, mas os abutres, já estão ensaiando voo e, se não enxotados, emudecerão vozes não mais condescendentes com o atual estado de coisas.

A corrupção, delineada num catálogo de amplitude enciclopédica, estimulada pelo público do panis et circenses, afigura-se indomável. Debalde, partidos políticos só a combatem na mídia, muitos siglas de aluguel, reduzem-se a inócuas etiquetas. O governo não tem compromisso social – entes e servidores públicos jamais deveriam ser nossos senhores e sim, sempre, servos nossos e para isso lhos pagamos.

O lema trivial de que os fins justificam os meios retrata a atual reação coletiva contra os insensatos gestores públicos indiferentes ao planejamento, à transparência, ao controle e à responsabilidade. Manipulados por parlamentares movimentam, abusivamente, bilhões do dinheiro público, indignos de respeito e dos postos que ocupam.

Às exceções de praxe, o sistema político decompõe-se, falsos líderes estão acuados, enquanto a Justiça faz-se desacreditada pela morosidade. A história exige da Corte Constitucional empenho, presteza, diligência, independência e soberania nos seus julgamentos.

Será que vivemos uma nova disposição de ânimo cívico, de anúncios de intenções ou de falsas esperanças? Catarse? De qualquer maneira, já não há muito a esconder quanto à promiscuidade pública. A essa altura, é de se fiar no poder do povo, revoltado e indignado, capaz de mobilizar a nação através das revolucionárias redes sociais, havendo de ter como senha a ininterruptividade.

(*) Advogado, professor e membro do Conselho Estadual da OAB-CE.