A violência em todo o Ceará é assunto recorrente em qualquer conversa, sejam nas conversas acadêmicas ou mesmo nas informais conversas das renitentes e poucas cadeiras que ainda restam em nossas ruas. O aumento da sensação de insegurança nos últimos anos é inegável e preocupante.

No entanto, não culpo apenas uma única causa do aumento da violência, pois é sensato falar-se que há várias razões. A gestão pública, boa ou má, interfere nisso, claro, mas dependendo de muitos fatores externos também. A própria falta de preparo da segurança pública pode ter inclusive motivado a “importação” de mais profissionais do crime.

Porém, a questão da segurança pública no Ceará tem vícios históricos e ainda não resolvidos que acabam sendo um triste legado de gestão a gestão. O baixo salário dos que fazem a segurança pública ainda é um desses problemas, além da crise existente desde as greves nos anos 1990, o que fizeram aumentar ainda mais a insatisfação da categoria ante o insucesso de várias demandas.

A péssima distribuição de renda, entretanto, ainda vexatória para todos nós, é uma causa perene. E certamente a maior responsável pelo cenário preocupante.

O que tem motivado, excluindo-se questões eminentemente políticas, tantas críticas à violência não é somente o fato de termos nos tornado uma Cidade violenta da “noite para o dia”, mas também porque a violência saiu dos becos esquecidos onde sempre existiu e resolveu “sambar” na cara de toda a cidade, sem distinção. Sob um prisma sociológico, essa realidade sempre existiu nas periferias, muitas vezes perpetrada pelo próprio Estado repressor. Embora tenhamos em números absolutos um aumento considerável, houve também o acréscimo de uma classe silenciosa que antes não era incomodada (nem vítima), sentindo na pele a cobrança dessa desigualdade secular que é, muita vezes manifestada e cobrada em forma de violência.

Nesse diapasão pérfido, a distribuição da violência acabou se tornando algo mais democrático aos cidadãos de Fortaleza. Muito mais justa, em seu infeliz terrorismo diário, do que a distribuição de renda entre os habitantes desta aldeia. Esse duro quadro nos impõe responsabilidades e demanda soluções igualmente coletivas, dispensando qualquer discurso oportunista e fácil. Alguns mais, outros menos, mas somos todos vítimas e culpados disso tudo que construímos ou deixamos construir.

(Artigo publicado no jornal O Povo, 14/10/2013)

*Advogado, membro da Comissão de Direito Eletrônico da OAB, jornalista e poeta