por Paulo Maria de Aragão*

Diz a lenda dos índios da Amazônia que um pesado tronco de árvore caiu sobre a carapaça de um jabuti (famoso por sua resistência) que andava pela floresta, deixando-o imobilizado. Resignado, restou-lhe aguardar o apodrecimento do cepo.Então, livre do embaraço, o quelônio seguiu, lépido e fagueiro, o seu caminho.

Porém, na densa selva política, o cenário é outro. Delinquentes sem a resistência do jabuti, nem moral para enfrentar a opinião pública, buscam abafar infindos delitos pelos desvãos do deslembrar, às vezes indisfarçáveis. Por que, só oito anos depois, se revelou o prejuízo bilionário da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena? Tamanha soma não desculpa a “omissão de parecer técnico e juridicamente falho”, como quer a presidente.

Ninguém sabia de nada? Claro que sim! Denúncias em ano eleitoral dão rendimentos nas urnas. A verdade é inescondível por mais que a encubram. No caso, uma legenda “fulaniza” o escândalo: não há inocentes. Responsáveis, beneficiários dessa história poderão escapar pelas mesmas filigranas jurídicas e pela interferência de alquimista,a exemplo dos “mensaleiros”.

A Petrobras, o sonho de Vargas, sempre foi a bandeira dos movimentos nacionalistas. Desde os tempos do Liceu do Ceará, escuto que a “Petrobrás é nossa”, “A Petrobrás é intocável”. Hoje, discutível é que continue intocável, pois até vergamos com a invasão de suas instalações na Bolívia por Evo Morales, na era Lula, quando aquele ainda fez este engolir desaforos e lições de moral.

A estatal é nosso orgulho,chafurdada ou não por desmandos e superfaturamentos. Surpreende o calar dos protestos que faziam coro nas ruas. É triste saber que o seu valor de mercado, que já a fez a décima segunda maior do mundo, caiu para o centésimo vigésimo lugar, segundo o jornal inglês Financial Times. O resumo da ópera: nem o tronco da árvore apodreceu, nem se guardou o silêncio quanto à desastrada compra da refinaria de Pasadena pelos inocentes.

* Paulo Maria de Aragão é advogado, professor, membro do Conselho Estadual da OAB-CE e titular da Cadeira de Nº 37 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ).