Paulo Aragãopor Paulo Maria de Aragão*

A sociedade escravagista, então transformada em símbolo da crueldade, ainda se enraíza no Brasil, onde grandes proprietários de terras submetem homens e mulheres a trabalhos forçados em fazendas, com a quase certeza da impunidade, em particular nas áreas de difícil acesso na Amazônia.

Outro desafio presente em nosso território são as atividades espúrias que favorecem os proxenetas, exploradores de prostíbulos, que fazem comércio envolvendo mulheres, crianças e adolescentes. Essas mazelas também são fomentadas por dívidas, drogas, abrangendo uma intrincada cadeia: peões, prostitutas, fazendeiros (patrões), gatos e pistoleiros, todos dependentes entre si.

Nesse círculo, por inanição do Estado, a espécie humana decompõe-se, avezada ao refrão “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho: “Eh, ô, ô, vida de gado/ Povo marcado/ Eh, povo feliz!”. E as vítimas da exploração já não se sentem mais exploradas; sentem-se agradecidas ao patrão pelo que faz por elas e por suas famílias.

O voto é facultativo para aqueles com mais de 70 anos, maiores de dezesseis , menores de dezoito anos e analfabetos, mas estas pessoas, inclusive as jovens, são cooptadas para a engorda dos currais eleitorais. E nessa senda do encabrestamento e da ignorância, Dilma contará, entre outros, com o voto daquela aposentada pelo Funrural, temerosa de que, caso não sufrague o seu nome, a presidente, ao tomar conhecimento ,cancelará a sua aposentadoria.

Esse quadro reflete o descrédito do povo em relação às instituições e aos políticos, bem como a debilidade da nossa democracia. A rejeição à obrigatoriedade do voto, prevista no art. 14 da Constituição, em recente pesquisa Datafolha apontou a subida para 61% do eleitorado.

E parte do povão, nem por sombra ,quer trabalho e vai à cata das bolsas da vida – é melhor do que receber produzindo. O efeito é indesejado, mas manifesta gratidão e espera o momento eleitoral para retribuí-la com a “santa” oferta. Assim, deem-se vivas ao círculo vicioso, ao analfabetismo, à violência e ao fomento dos currais eleitorais que levam a nação ao declínio político e moral. Ao inconsciente coletivo , creditam-se as mazelas sociais, enquanto as “cabeças” votantes seguem à risca a cartilha de seus senhores , no dia do aboio, o dia das eleições, comemorado com festa.

Este é o império do analfabeto político.

*Advogado, professor e membro do Conselho Estadual da OAB-CE.