Artigo do advogado criminalista Leandro Vasques, publicado na edição desta terça-feira (14) no jornal O Povo, destaca as relações interpessoais em período eleitoral, em que mais vale a busca pelo poder ao respeito aos amigos que optam por votar em candidatos divergentes.

por Leandro Vasques*

Segundo turno das eleições para presidente e governador: Terreno fértil para torpedos, increpações e injúrias. Na verdade o eleitorado esperava ser convencido pelos projetos de cada candidatura sobre a combalida segurança pública e a perene crise na saúde, mas na verdade, nos bastidores da arena, o que temos é uma atmosfera belicosa. Nas redes sociais então, nem se fale. E nos “whatsapp´s”? Vídeos de inconfessáveis autorias, textos impublicáveis etc. É a chamada “sub-campanha”, nefasta e nauseabunda, que só serve de combustível para inflamar ânimos e sentimentos já turbinados.

A sensação que nos invade é a de que demônios se infiltram entre os políticos e descortinam uma guerra invisível, mas bem audível e ruidosa. A luta pelo poder se transforma em uma questão de orgulho. A pequena o debate. Nesse cenário em ebulição algo tem me preocupado: as relações interpessoais, mais precisamente as amizades. Como poetizou Mário Quintana, a amizade é uma espécie de amor que nunca morre, e não deve ser vitimada por esgrimas partidárias, as quais se renovam intermitentemente a cada biênio – ora em nível local, ora em nível nacional. É também como versejou Vinícius de Moraes, acerca das vicissitudes da amizade: “Enfim, depois de tanto erro passado/ Tantas retaliações, tanto perigo/ Eis que ressurge noutro o velho amigo/ Nunca perdido, sempre reencontrado.”

Assim, é incompreensível que pessoas se digladiem visceralmente por política, assim como por futebol. Os campos futebolísticos são mais propensos a embates apaixonados, afinal a opção por um determinado time, no mais das vezes, desafia a razão e resiste a toda e qualquer demonstração lógica. No entanto, o coliseu político hoje instaurado tem oportunizado o mesmo tipo de escaramuça, transbordante de furor e carente de bom senso. A autovigilância é boa conselheira nesses momentos. Não se deixe contaminar.

Lembre-se que muitos dos postulantes, noutros tempos, se abraçavam e se elogiavam reciprocamente, e quanto a você? Por que você permitiu que essa disputa alheia arranhasse sua amizade? Você tem todo democrático direito de apoiar o candidato que lhe transmite maior confiança, ou melhores condições objetivas e subjetivas para assumir as rédeas do poder a partir de 2015, e seu amigo também ostenta esse mesmo direito. Respeite seu semelhante e não permita que essa efêmera campanha eleitoral imploda amizades de décadas e décadas de existência, afinal, ainda conforme Quintana “eles passarão, eu passarinho”.

(*) Advogado criminal e mestre em Direito pela UFPE.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).