Artigo de autoria do diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA), Vanilo de Carvalho*, publicado no jornal O Povo desta terça-feira (18), analisa as várias faces do poder. Confira artigo na íntegra:

A instituição “poder” é muito falada e pouco compreendida. O recente embate eleitoral confirma esta tese. Geralmente, o poder é associado às possibilidades de mando político ou econômico. Recentemente, a revista Forbes, que trata, em sua linha editorial, de assuntos relacionados à pujança econômica, listou como as seis personalidades mais poderosas do mundo Vladimir Putin, presidente da Rússia; Barack Obama, presidente dos EUA; Xi Jinping, presidente da China; Papa Francisco; Angela Merkel, chanceler da Alemanha; e Bill Gates, co-presidente da Bill & Melinda Gates Foundation.

São Paulo, em sua epístola ao romanos, foi taxativo: “não há poder que não venha de Deus, e, os que existem, foram instituídos por Deus”. Dito de outra forma, entendendo Deus como criador da humanidade e comprometida com o destino de homens e mulheres, isso significa que o poder só é exercido com propriedade se for entendido como uma responsabilidade ampliada a partir do interesse coletivo. O Papa Francisco, a princípio, parece destoar da lista de ricos e poderosos, mas, ao contrário, é justamente a figura que melhor representa uma concepção de poder baseada na misericórdia, ou seja, na perspectiva de colocar-se no lugar do outro para compreendê-lo e, o que é mais importante, ser capaz de ajudá-lo.

Este viés não é essencialmente religioso. Mais que isso, guarda estreita relação com a política e a filosofia. Hannah Arendt, por exemplo, ensina que “o poder resulta da capacidade humana não somente de agir ou de fazer algo, como de unir-se a outros e atuar em concordância com eles, sendo os participantes orientados pelo entendimento recíproco e não para o seu próprio sucesso, tendo como fim o entendimento mútuo”. Este corte da pensadora alemã destitui do poder uma possível vinculação com a violência, fazendo distinção clara entre autoridade e autoritarismo.

O poder se origina nas experiências de trocas estabelecidas entre pessoas que se atribuem igual dignidade e racionalidade, para concretizar ordenamentos que garantam a liberdade e a autonomia dos cidadãos. Quando o processo dialógico do poder está maduro, fica claro que quando uma parte ganha poder político, a outra não precisa perdê-lo. O exercício do poder é que ocorrerá de formas diferentes.

Os constantes exemplos dados pelo Papa Francisco são um apelo inequívoco para que as pessoas assimilem, cada vez mais, uma definição de poder baseada na simplicidade, no relacionamento ético com o outro, na possibilidade de mobilizar a sociedade para fazer o bem e exercitar a solidariedade. Em suma, quanto mais poder você possui, maior a responsabilidade com todos os que passam a depender de suas decisões.

(*) Vanilo de Carvalho é diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA)

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).