por Paulo Maria de Aragão*

A sociedade resvala para insondável abismo. A classe dirigente desmoraliza-se ante a revelação de fatos deploráveis. A inépcia e a vertiginosa queda dos valores morais culminam nesse estado de coisas.  A cobiça é uma constante entre os governantes sem grandeza de alma nem de propósito.

O interesse coletivo afasta-se da incidência do relevante princípio social. A mentira predomina certa de que “repetida centenas de vezes passa a assumir foros de uma verdade”. Com esta farsa, o ministro nazista, Joseph Goebbels, comandou a propaganda hitleriana. Copiada no Brasil, só falta oficializar-se o “Ministério da Verdade do Estado” e confiá-lo ao Pinóquio ou a Macunaíma.

Nesse marasmo, a sociedade segue o famoso chavão, “quanto pior, melhor”, daí as instituições permanecerem descumprindo suas finalidades, contrapondo-se aos deveres. Não merecem mesmo respeito: um infame servidor, indiferente à aflição do doente que vem do interior, condiciona a sua consulta ao pagamento prévio de cem reais ou terá que aguardar no mínimo 90 dias para o atendimento. Onde andam seus gestores?

Enoja o quadro de saúde do país. E não se avistam soluções no horizonte. A  classe dirigente ilude os sequazes. Abusa e esquece aqueles que, há dois séculos, foram guilhotinados. O populacho assistia à barbárie, sedento de sangue humano. Cabeças rolavam. O povo delirava, povo este, chamado de sábio, que também qualifica de belo e “sinfônico” o despertar barulhento dos pardais.

Sábio ou sádico? Bizarra também a história de que “o povo unido jamais será vencido” – instruído e educado sim, pois nunca serviria de matéria-prima a ser manipulada por ávidos de poder. Com educação, o espírito público geraria a conscientização política de que todos têm direito à saúde e segurança. Talvez fosse o fim do discurso raso, dos corruptos e dos políticos populistas idolatrados. Só assim a nação ocuparia o honroso patamar da soberania.

A fetidez expelida pela cloaca da corrupção tornou-se insuportável. Urge depurá-la do estado corruptor, ampliada com os mensaleiros e desdobrada com o petrolão. Estes envolvem membros de uma classe dirigente desmoralizada, por enquanto, protetora de hóspedes temporários do cárcere, tratados com mimos e atenções.

(*) Paulo Maria de Aragão é advogado, professor, membro do Conselho Estadual da OAB-CE e Titular da Cadeira de Nº 37 da ACLJ.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).