por Vanilo de Carvalho*

A história do Brasil corre como um trem nos trilhos paralelos a outros, de todas as nações do mundo. Às vezes parece que estamos na mesma velocidade das boas locomotivas, mas, de repente, a máquina estanca ou falta combustível. Neste momento, os trens realmente desenvolvidos e modernos, na aparência e na engrenagem interna, bem como na competência do maquinista, avançam e nos deixam para trás.

Isso aconteceu quando nos tornamos independentes, e perdemos a oportunidade de avançarmos para longe do modelo de estado português. Quando deixamos de aproveitar a estabilidade e os recursos do II Império e não investimos na industrialização (em plena Revolução Industrial) e optamos por prolongarmos a escravatura, insistindo na monarquia. Quando a república foi proclamada sem a mínima participação popular e o federalismo ficou no papel, não conseguimos avançar para o século XX, com suas inovações sociais e participação democrática, estacionando na dinâmica da casa grande.

A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa, já dizia Marx. É inegável o crescimento do Brasil durante o primeiro governo Lula. Os índices comprovam o aumento do PIB, do lucro dos bancos, da produção de veículos, da safra agrícola, do investimento direto estrangeiro, das reservas internacionais, da taxa de emprego e do salário mínimo, dentre outros. Tudo isso favorecido por um presidente que bem apresentava externamente o Brasil e pelas boas condições internacionais.

Novamente, parece que deixamos o bonde, ou melhor, o trem da história passar. O que o Brasil fez com o que tinha em mãos? Ficamos no quase. Quase chegamos lá. Os bons índices ficaram em um passado recente. Crescendo, agora, só inflação, taxa de juros, queda nas vendas do comércio, saída de dólares para o exterior, e o pessimismo coletivo.

Isso tem relação, claro, com a educação, que vai mal. Os números do Enem mostram que, de seis milhões de candidatos, apenas 20% conseguiram nota acima de 6,0 na redação. Oito em cada dez brasileiros que querem ir à universidade não sabem desenvolver um texto com qualidade. Para piorar, quase 10% tiraram zero nesta prova escrita. Mais de meio milhão de pessoas.

Creio que se fosse uma avaliação só sobre história do Brasil, teria sido pior. Afinal, não deveríamos ter o direito de repetir equívocos, mas só de aprender com os erros da nossa história para, finalmente, passar a marcha da qualidade em direção ao futuro.

(*) Vanilo de Carvalho é diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA).

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).

Artigo publicado no jornal O Povo no último dia 8 de abril.