por Vanilo de Carvalho*
Diretor Executivo da Escola Superior de Advocacia

Durante a quaresma, logo após o Carnaval, a Igreja Católica, através da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tradicionalmente lança a Campanha da Fraternidade, numa preparação para a Semana Santa. O lema deste ano é “Eu vim para servir” (Mc 10,45). O cartaz da CF 2015 é emblemático: mostra o papa Francisco na cerimônia do lava-pés, numa atitude que ressalta uma postura humilde da Igreja em relação à sociedade.

Renova-se mais uma vez a atitude da Igreja, como Mater et Magistra, a propor a todos um comportamento atuante, participativo, consolador, misericordiosa, e acolhedor, como nos mostra o texto bíblico em João 13, 1-15. As diversas declarações do papa Francisco ampliaram os limites do diálogo da instituição com os mais diversos grupamentos sociais, reafirmando a tese de que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Os cristãos devem trabalhar para que as todas estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos.

O texto base da Campanha da Fraternidade resgata a história das relações Igreja e sociedade no Brasil e reafirma sua doutrina social. O terceiro capítulo debate uma visão social a partir do serviço, diálogo e cooperação entre Igreja e sociedade, além de refletir sobre dignidade humana, bem comum e justiça social. A perspectiva é, ao mesmo tempo, crítica e alvissareira. As tecnologias – principalmente às ligadas à informação – avançaram sobremaneira. Porém, isso não resultou, como se pensava a princípio, num processo humanitário de diálogo e união.

Servir ao outro é a meta. E a Igreja Católica vem, corajosamente, colocar-se como exemplo a ser seguido. Ora, nada mais pertinente nesta Campanha do que a busca por justiça social. E quando falamos em justiça, é de praxe lembrar o trabalho do advogado. A função social do advogado assenta-se basicamente na consolidação da justiça entre os homens, ou seja, ser um servidor por excelência. Ele deve empenhar-se para confirmar, na prática, o conceito da activae civitatis, no sentido de construirmos uma sociedade dinâmica, altaneira, próspera, justa, firmemente comprometida com os ideais da justiça, da real liberdade e do direito.

O que preocupa hoje, porém, é se tivemos uma perda desta dimensão humanitária. Desde cedo, ainda nos bancos da faculdade, acadêmicos de Direito devem ser acostumados a pensar no direito, e no seu futuro ofício, como um serviço ao ser humano, sem distinção de classe social ou poder aquisitivo, buscando a justiça como resultado final. É essa a vitória do advogado.

Espera-se que a CF 2015 cale fundo no sentimento da categoria. Todo advogado deve lembrar que o saber adquirido deve ser usado para servir, pois só se concretiza através da necessidade do outro, na relação entre os homens, em nome do bem comum.

Artigo publicado no jornal O Povo no dia 22 de março de 2015.