por Paulo Maria de Aragão*
Lia-se, certa vez, que “a felicidade é uma pausa na inquietação da vida”. A felicidade é feita de pequenos momentos. A vida é breve. O epicurista Horácio “Odes” (I, 11.8), no sentencioso carpe diem, insta-nos a aproveitar o dia com trabalho, dedicação e nobreza, cumprindo deveres para com os nossos iguais e para com o Estado.
A pérola inspirativa horaciana celebrizou-se no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, exortada pelo professor John Keating aos seus alunos: alentava-os de que o sentimento crítico, criativo e pensante aprimorava vidas, estimulando-os na leitura, nas paixões e nos escritos poéticos. Emoldurava a poesia e o romance como uma das formas de exaltação do amor e de entender o absolutamente nada da matéria que se desfaz com a transitoriedade existencial.
As rosas são belas e extasiam ao desabrochar, mas exigem cuidados com as ervas daninhas e pragas para não murcharem de súbito. Tudo passa… A poesia não suaviza apenas na palavra escrita ou verbal, manifesta-se ainda nas inspirações cotidianas, exteriorizadas nas mais diversificadas nuanças. Uma triste pausa aos que, em genuflexo, acreditam que a moeda compra a felicidade – ilusão bancada por um deus inútil e enganoso.
A vida é dádiva a ser fruída em todos os momentos e de formas fecundas. O exercício das ciências não se deve cultivar com soberba ou tendenciosidade. O ideário carpe diem leva-nos a questionar pessoas brônzeas, enfermas pelo ódio, inveja e aquelas que se dizem poder tudo na vida entregues à hediondez. Decadentes e mumificadas vagueiam robotizadas de ouvidos acurados no tilintar das moedas e no alarido falso de aplausos. Outras, retratam a escória corrupta e de corruptores. “Sociedade dos Poetas Mortos” fez história e contrapõe-se à insolência dos que abalam os alicerces morais da sociedade.
Seria utopia? Talvez, mas o é pelo amor fraternal e romântico que se dignifica, dissociado da idolatria e do endeusamento. As palavras e ideias podem mudar o curso da história. Os homens, cujos desejos são ilimitados e as ambições desmedidas, entregam-se ao desespero, como o fez o imperador macedônico Alexandre Magno, ao lamentar a falta de reinos para conquistar.
Por ser finito e irrecuperável, o tempo não deve ser desperdiçado. Se curtos os momentos, exultem-se os sentimentos. A sabedoria exorta que devemos considerar as coisas boas por sua intensidade e não pelo tempo que duram. Ora, esse é o real espírito carpe diem: aproveitar cada detalhe na sua essência. A beleza deve ser contemplada, mas não erigida a valor supremo, pois, como tudo ao nosso redor, um dia ela acaba.
Relembrem-se as palavras do carismático professor Keating: “carpe diem,carpe diem…” ao recomendar aos discípulos aproveitarem o dia com muito amor – aprendendo a pensar por si mesmos – símbolo imorredouro e inconfundível de fé, antes que o tempo voraz os consumisse.
(*) Paulo Maria de Aragão é advogado e professor, membro do Conselho Estadual da OAB-CE e titular da Cadeira de Nº 37 da Academia Cearense de Letras Jurídicas (ACLJ).
A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).