por Vanilo de Carvalho*

A pobre população do Nepal ainda se recupera do terremoto que atingiu o país no dia 25 de abril, afetando quase um terço da população de 28 milhões de pessoas. Um segundo tremor ocorreu em 12 de maio, agravando a situação. Foram mais de 6.800 mortos. Há dificuldade de levar socorro aos sobreviventes, notadamente em áreas remotas. Embora a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha avaliado que os doadores têm se dedicado mais à reconstrução do que a formas de ajuda mais necessárias, como alimentação e abrigo, a pronta reação da comunidade internacional é um ponto extremamente positivo. Nas semanas seguintes ao tremor, dezenas de agências, entidades da Igreja como a Ordem de Malta e governos estrangeiros se apressaram em enviar equipes de busca e resgate, médicos e materiais de apoio ao país. Quase US$ 100 milhões já foram enviados.

Na outra ponta, este mês completaram-se quatro anos da Primavera Árabe, quando grupos de manifestantes saíram às ruas para exigir a abertura democrática e protestar contra a corrupção na Síria. As forças de segurança que responderam com prisões massivas e repressão. Alguns soldados deserdaram e, com grande número de civis, formaram o chamado Exército Livre Sírio para enfrentar as forças leais ao presidente Bashar Al Assad.

O que parecia que era uma guerra civil acabou se tornando um conflito mais complexo com interferências do Al Qaeda e do Estado Islâmico. A guerra na Síria causou mais 200 mil mortos e 3,8 milhões de refugiados – metade deles crianças –espalhados por vários países, o que a torna uma das maiores crises desde a II Guerra Mundial. São casos emblemáticos. Na Síria, resta evidente como o ódio sem sentido desfaz as mais básicas noções de respeito à vida do outro. Famílias desmanteladas, cidades arrasadas, toda uma vasta gama de sociabilidades comunitárias postas abaixo. Quanta energia gasta para reafirmar a maldade e a destruição!

Porém, enquanto alguns literalmente se matam, no Nepal a união das pessoas em torno que questões humanitárias pode servir como exemplo para uma maior conscientização de todos nós. Esta mínima centelha de amor que brota no coração de quem quer ajudar o próximo é uma esperança de recuperação do sentimento cidadão baseado no interesse maior da coletividade. O poeta gaúcho Mário Quintana dizia que “o segredo é não correr atrás das borboletas: é cuidar do jardim para que elas venham até você”. Muitas vezes reclamamos do vazio da existência individual sem perceber que tal necessidade pode ser suprida com uma ajuda simples a quem, muitas vezes, está ao seu lado.

(*) Vanilo de Carvalho é diretor executivo da Escola Superior de Advocacia (ESA) e professor de Direito.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).