Há algumas semanas, o Brasil acompanhou a posse do Presidente e vice presidente do Tribunal Superior Eleitoral, evento que contou com presença de autoridades civis e institucionais, inclusive dos Chefes de Poderes, onde o empossado leu discurso em defesa das eleições, da democracia e das urnas eletrônicas, o qual foi efusivamente aplaudido.

Por outro lado, no Ceará, ouviu-se em comício ocorrido no Bicentenário da Independência do Brasil, um parlamentar, isolado, porém apoiado, vociferar que se determinado candidato não vencesse nas urnas, venceria na bala.

A fala do Deputado, que anuncia uma reação armada à eventual derrota eleitoral, na realidade, revela, por um lado, profundo desrespeito dele e de seus eleitores à soberania popular e à idoneidade da Justiça Eleitoral, por outro lado, uma tentativa de esvaziamento da razão de ser das eleições.

O processo democrático atual atravessa severa crise social, visto que se tem agravado os números da fome e do endividamento, bem como a carestia, permeado por embates políticos, sobretudo nas redes sociais, com disseminação de falsas notícias que se intenta confundir com liberdade de expressão, além das repercussões do contexto em termos de saúde mental da população.

Apesar de temas a pautar, o debate de ideias, intensificado pela quase onipresença das redes, paradoxalmente, revela o esgotamento da construção de sínteses sobre si.

O deputado que brada à pólvora, ao expor seu grupo ao isolamento, visto as posições das instituições sobre ruptura, incentiva-o a desvirtuar o sentido das eleições, para que não seja um período de diálogo, como propõe a Constituição, mas combate ao inimigo que não deve ser tolerado, incentivando tragédias.

Apesar de isolada, ameaças como esta não são acenos a eleitores e nem espumas ao vento, sobretudo vindo de mandatário, pois encontram concretude em tragédias com vidas reais. Ameaças como essas são tentativa de esvaziamento da política no cotidiano nacional e um sintoma do que vem ocorrendo à democracia brasileira. Esses discursos que devem ser combatidos com toda a veemência, sobretudo, devem levar a reflexão de qual será o papel dos eleitores e dos eleitos nestas eleições.

Clique aqui e confira o artigo publicado pelo jornal O Povo. 

Pedro Ângelo Mesquita é membro da Comissão Especial de Ética na Política e Combate à Corrupção Eleitoral da OAB-CE.