cinthiaSe “quem vê cara não vê não coração”, definitivamente quem vê cara, vê cliente.

Costumamos impelir uma carga pejorativa até mais forte do que o necessário para uma realidade bastante comum a qualquer profissional do Direito, sobretudo ao advogado, que, se bem aproveitada, torna-se um referencial de apresentação mais atrativo do que qualquer instrumento de publicidade: O desenvolvimento de um perfil profissional marcante.

A ascendência histórica do advogado sempre lho entregou em mãos a defesa de bens sumamente importantes, valendo-se, para tanto, duma capacidade intelectual dotada de carga valorativa própria. A habilidade de oratória, de persuasão e convencimento, o domínio de escrita, de interpretação, a defesa ferrenha de interesses, constituem, digamos assim, o conteúdo singular do mister advocatício. Contudo, o mundo mudou, muda, e às habilidades substanciais de um bom advogado somaram-se outras, carregadas pelo mercado e impulsionadas pela competitividade assombrosa dos milhares de advogados recém-formados que digladiam por uma ansiada vaga  ao potencial de crescimento.

Pois bem, tudo isso é para concluirmos, com maior concordância, que seria um erro gritante termos em mente que um perfil profissional de alto desempenho se limita somente a critérios materiais – àquele estereótipo de ter o próprio escritório, portar um carro de luxo, carregar instrumentos tecnológicos de ponta, e assim adiante -, até porque, assim o fosse, um jovem advogado que, como decerto, está dando os seus primeiros passos em vista de um futuro bem-sucedido, distanciaria estratosféricos passos de formar esta imagem profissional sólida de que falamos, e este não é o caso.

Mas, finalmente, por que é tão importante criar uma imagem profissional própria? Para tornar-se visto, viável, visado. E isso é evidente. Qualquer cliente, assim como nós mesmos o fazemos em outros segmentos de busca por consumo ou prestação de serviço, procura por um profissional conceituado, mesmo que precise pagar mais. E isso porque uma imagem bem construída trespassa confiança, credibilidade de um trabalho bem desempenhado. No fundo, o que se vende não é meramente o que os outros pensam a seu respeito, uma opinião subjetiva sem fundo, mas o desejo despertado de um trabalho qualitativo, responsável e ágil que dentro em breve se entregará ao cliente/contratante.

Um perfil profissional atrativo, como dissemos, é aquele que, por ser bom, é visto, viável e visado. E, na prática de trabalho, o que isso significa e como conquistar estes atributos?

Bem, dissemos que os fatores materiais não são responsáveis por, sozinhos, angariarem uma boa imagem, porque, assim fosse, seria ofertar apenas uma bela embalagem desprovida de maior conteúdo. Não afirmamos, no entanto, que não são importantes. O aspecto visual é de uma influencia inquestionável, por despertar um sentido presumido de sucesso aos olhos do público.  Neste plano, as vestimentas; o zelo pela aparência; o currículo; a elaboração de um design próprio, com cartão de visita de qualidade e porque não de um website; a postura e até o uso do tom de voz, entre tantos outros, elevam qualquer conceito. E aqui, sim, é possível falar-se em um pré-conceito digno de ser concebido, por entregar uma boa impressão de quem o é não só à primeira vista. É claro que para um jovem advogado esta conjuntura vai sendo melhorada gradativamente, mas desde o início deve ser colocada como uma prioridade. Se for apenas um terno, uma bolsa, por exemplo, que se venha possuir, que se lhos usemos com a determinação de quem sabe que são também instrumentos de trabalho. Não é mesquinhez, é esmero.

Continuando, juntamente com o aspecto imediato da imagem, é preciso se dar a ver. De nada serve ter algo merecedor de ser visto se ele não for mostrado. A dimensão do ser VISTO, assim, é levar ao público-alvo (potenciais clientes, parceiros de trabalho, ambiente acadêmico, etc.) o conhecimento de que você está, e está para ter o seu espaço. E, como? Se engajando em atividades de interesse comum, participando de grupos de estudo e discussão, usando das ferramentas de publicidade e divulgação, como as redes sociais, uma excelente maneira de divulgar a imagem, quando bem utilizadas, enfim, aderindo a qualquer contexto onde se possa mostrar a propriedade de competência que se possui. Aqui, abrimos o caminho.

Depois de ter aberto este caminho, é vez de se tornar VIÁVEL.

O perfil profissional viável é aquele que, uma vez visto, tendo despertado o interesse do público, é apto a entregar, de fato, o produto de sua oferta, isto é, um trabalho bem feito, com condições de resolver problemas e ir além. Prestar um bom serviço continua sendo uma das maneiras mais eficazes de abrir portas para outros negócios, saindo de um profissional desconhecido para um indicado. O ser viável não é, outrossim, uma automatização objetiva: Pagou, levou. Além disto ser raro, se é que possível, na ordem dos conflitos humanos, já que passamos por inúmeras variáveis até resolver definitivamente um problema, importa nesta dimensão a demonstração da criatividade, da agilidade do advogado, do interesse em acompanhar o caso contratado, de comunicar-se e demonstrar ao cliente que poderá até ter que contar (infortunamente) com a demora dos feitos judiciários, com o percurso do tempo gasto, mas que ele estará bem representado, em vez de se ter equitativamente com qualquer opositor.

Chegamos à etapa que desfecha este processo, a de ser VISADO, que se dá como o resultado de uma construção de perfil profissional bem cuidada durante os anos que acompanham o início do caminho e se vai amadurecendo com o tempo, se maturando em medida proporcional ao esforço e à perseverança de inovar e de fazer aquilo que a média reputa insignificante ou cansativa demais. Tornar-se visado advém como o fruto do investimento mais importante do advogado, o acreditar e depositar fé em si mesmo.

É depois de anos que se chega aos mais altos níveis de concorrência no mercado, já não precisando tanto ir aos outros, porque os outros virão a você. O resultado é a solidificação de um negócio rentável, sólido, digno, que abriga os melhores profissionais, tudo como reflexo de se ter sabido ler o mercado ao seu favor.

O desafio primordial do jovem advogado é olhar hoje para si e reconhecer que desde agora, sem dúvidas, ele tem o seu grande valor, que ele não é uma parte indivisa dos muitos que compõem a numerosa parcela da jovem advocacia, mas que é chamado a ser único, inconfundível, cultivar-se para ser visto, e, sendo visto, trabalhar-se para ser viável, e, sendo viável, viver a vida com a felicidade do presente, até que logo, muito logo, se ache sendo por todos visado.

Cinthia Greyne – Advogada