A Comissão de Estudos Políticos da OAB Ceará trouxe à tona o pertinente questionamento “A corrupção é o maior problema do Brasil?”, durante I Fórum de Estudos Políticos, que aconteceu na quarta-feira (19), na sede da Seccional.

O Presidente da Comissão, Isaac Andrade, ressaltou que o evento teve a intenção de integrar o jovem advogado, bem como a sociedade em geral, à discussão política. “Estamos preparando as novas gerações para participar de um diálogo equilibrado, produtivo, e estimular a promoção de um debate técnico, um debate de ideias. Mesmo que seja partidário, com pessoas que pensam diferente, que possa existir o respeito. Afinal, o interesse de todos tem que ser sempre o melhor para o Brasil”.

Para Djalma Pinto, ex-Procurador-Geral do Estado do Ceará, “o grande problema do nosso País não é a corrupção, mas sim a certeza da impunidade”. Segundo ele, desde os primórdios da história do Brasil, sempre houve corrupção, sendo essa uma questão cultural. “Portanto, a nova geração tem um compromisso muito importante e inusitado de resgatar a cultura de respeito ao patrimônio público”. Em seu discurso, Djalma aponta que ainda existem maneiras de minimizar a corrupção e incutir nas pessoas a reflexão sobre o valor do patrimônio público: “exercer a solidariedade que a Constituição proclama, pensar no outro, prestigiar as pessoas mais pobres, e principalmente garantir a igualdade através da escola com Ensino Fundamental para todas as crianças mais pobres, com a mesma qualidade daquela que é oferecida às mais ricas. Se não apostarmos nisso, permitindo que todos possam competir, nós jamais seremos uma nação igualitária, desfrutando da paz social”.

Atento à exposição de ideias, o Presidente da Comissão de Direito Eleitoral, Fernandes Neto, que também se fez presente no encontro, mostrou-se de acordo com as colocações que estavam sendo apresentadas e completou, afirmando que “as nossas instituições já melhoraram bastante, mas ainda não estão preparadas para tratar desse assunto da forma adequada, gerando essa sensação de impunidade. ” Segundo Neto, “3,4 milhões de pessoas no mundo vivem abaixo da linha da pobreza, e se formos buscar solução para minimizar a desigualdade, que é uma das chagas que fomenta a corrupção, devemos realmente oferecer educação de qualidade e extensiva a todos de uma maneira igual”.

Já o Procurador de Justiça, Ricardo Rocha, destaca que “hoje, o Brasil é considerado um dos países mais corruptos do mundo. É uma corrupção endêmica que tem preocupado bastante pela sua incidência em todos os atos da vida pública e da vida privada”. Rocha aponta que rotineiramente, o brasileiro acaba sendo corrupto. “São atitudes pequenas, mas que também são atos de corrupção. ” Para Sandro Fiúza, advogado e contador, sobre essa questão, é necessário repensar os valores e a ética no nosso País. “Estamos passando por momentos preocupantes em que esses valores foram muito deteriorados com o passar do tempo, e hoje há uma necessidade de recuperá-los para que possamos buscar eliminar a corrupção de dentro de todos os lugares. ”

Durante o encontro, Fellipe Souza, advogado e professor, explicou que existem três camadas da corrupção. “A primeira é a corrupção sistêmica, noticiada nos jornais, e que é mantida por pessoas que ocupam espaços políticos. A segunda camada é a endêmica, a do dia a dia. Aquela de furar fila, achar um objeto de outra pessoa que caiu no chão e não devolver, uma corrupção puramente moral. Já a terceira camada é a sindrômica, que faz uso da máxima “os fins justificam os meios”, a qual o operador da corrupção julga necessária aquela atitude para dar seguimento a qualquer coisa”. Fellipe cita que uma pesquisa do Datafolha, do ano passado, concluiu que o brasileiro considera a corrupção como o maior problema social do País. Entretanto, segundo ele “enquanto a corrupção sistêmica é extremamente explorada e nós não nos ocupamos em corrigir os problemas sociais causados pela corrupção endêmica, esse problema não terá fim. E se não for passado para as próximas gerações a consciência do que é público, a corrupção continuará a se perpetuar. Por isso, vale investir em políticas públicas de conscientização cidadã que nos faça mudar nosso cotidiano, como também nosso voto, e daí a gente desata o nó que se retroalimenta dentro desse emaranhado de corrupção”, encerra.

A advogada e professora, Elizabeth Coelho, parabeniza a OAB Ceará por fomentar essa discussão. “Precisamos deixar as pessoas mais críticas, no que diz respeito ao que acontece no nosso dia a dia, para que as informações sejam pensadas de forma racional”. Questionada sobre a principal pergunta do Fórum, ela responde: “lógico que a corrupção não é o maior problema do Brasil”. De acordo com a advogada, é preciso refletir sobre outras perspectivas, como “se há corrupção, o que fazer para driblá-la? O que está acontecendo para que exista corrupção? Se fossem devolvidos aos cofres públicos todo o dinheiro que já foi desviado, o problema do Brasil se resolveria? Creio que não. No nosso País, o que existe é a aceitação por parte da sociedade. Estão desviando interesses. E enquanto não dermos atenção ao que realmente mereça, a gente nunca vai acabar com esse problema”.

Estudantes e população em geral puderam participar e levantar questionamentos. Nazareno Marques, acadêmico de Direito, falou que discussões como essa enriquecem a todos que participam. “Esse momento ofereceu aos estudantes maior capacidade para o debate sobre o assunto e uma visão mais adequada em relação aos acontecimentos do cenário atual do País e do mundo em que vivemos”. Os presentes inscritos no Fórum receberam certificação.

O próximo encontro já tem data marcada. O II Fórum de Estudos Políticos ocorrerá no dia 26 de julho, com o tema: “Futebol é o ópio do povo?”, e também será aberto ao público.

Compuseram a mesa: o Presidente da Comissão de Estudos Políticos da OAB Ceará, Isaac Andrade; o ex-Procurador-Geral do Estado do Ceará, Djalma Pinto; o Promotor de Justiça, Ricardo Rocha; o advogado e contador Sandro Fiúza; a advogada e professora Elizabeth Coelho; e o advogado e professor, Fellipe Souza.