Estamos cotidianamente cercados por medos, angústias, felicidade, amor e fé. Entre tantos sentimentos e acontecimentos rotineiros, são curiosamente incontáveis os sabores e dissabores que marcam verdadeira e profundamente os seres humanos. A modernidade resolveu incontáveis problemas em diversas áreas da sociedade. Falhou, contudo, ao dar sentido à existência, ao exterminar a miséria, a violência, a poluição, as drogas e a corrupção.

 

Protagonizada por todo tipo de desigualdade, a era hodierna do medo, principalmente no Brasil, fortifica suas raízes e, de modo sorrateiro, tem comandado nossas vidas de forma exacerbadamente naturalizada. Tem nos dominado ao ponto de esquecermos que há, sim, algo de positivo no medo. Se moderado, pode atuar como depurador de nossas experiências vivenciais históricas.

Genitora da era do medo, a insegurança se alastra e toma conta das cidades. Instituições que operariam em prol da justiça e deveriam proteger o cidadão têm sido, nos dias de hoje, as principais causas de nos sentirmos inseguros.

 

O escândalo de corrupção na Secretaria das Cidades denunciado pelo O POVO, com vários gestores envoltos de suspeitas de fraudes e irregularidades, comprova que nossos valores morais estão fragilizados. A corrupção, com as propriedades lesivas de um ácido letal, deteriora o Estado, e, claro, tudo que nele há.

Rememorando Rousseau, em O Contrato Social, há duas vias pelas quais um governo degenera: a retração do Estado ou sua dissolução. No que tange à segunda, ainda de acordo com o mestre do Iluminismo, uma das maneiras para que isso ocorra é a formação de outro Estado plasmado dentro dele mesmo, composto por membros do governo a quem interessa usurpa-lhe a soberania. Isso ocorrido, o pacto social se rompe e aos simples cidadãos é, sequencialmente, também usurpada sua liberdade natural, forçando a obediência cega.

A corrupção é um dos mais potentes ácidos que corroem nossa almejada plenitude democrática. Pura desolação minha, e, acredito também no povo brasileiro.

 

Fernando Férrer
Advogado e Conselheiro da OAB-CE