Suplício aéreo nas companhias

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Cheguei cedo ao aeroporto para fazer o check in sem atropelos e conseguir lugares juntos para mim, minha mulher e filha. Realizei esse intento, graças a Deus. O voo para o Rio de Janeiro estava marcado para as 11h5min, achando eu magnificamente britânica essa minúcia temporal. Já na sala de embarque, percebi os funcionários da companhia aérea com caras de poucos amigos, a dizerem que a aeronave estava no pátio e que nos chamariam em breve.

Ao fazê-lo, um rapaz que parecia ter tido um dissabor amoroso na noite anterior gritava (era isso o que ele fazia) que primeiro embarcariam as “prioridades”. Incluído em tal categoria, já que oficialmente idoso, fui à frente levando a maleta de mão da minha mulher para não correr o risco de não ter onde colocá-la (os passageiros, hoje, levam até sacas de milho a bordo!). Quando todos entraram, já eram 11h40min, sendo a decolagem realizada dez minutos depois. Como estávamos numa viagem de férias, embora curta, não me chateei tanto. Mas vários passageiros perderam suas conexões para Guarulhos e Congonhas.

Depois do meio-dia deu-se início ao “serviço de bordo”, com licença da má palavra. Faminto, imaginei fossem servidos aqueles sanduíches com sabor de plástico, mas pelo menos acompanhado de uma cervejinha “Xingu”, que certamente me ajudaria a dormir um pouco na viagem de três horas. Ledo engano! O “almoço” não passava de um pacote com seis bolachinhas salgadas e uma doce, Coca-Cola e água sem gás. Lembrei-me dos “hóspedes” dos campos de concentração nazistas, mas degluti avidamente as “iguarias”. Os tripulantes mostravam um cansaço e um mau humor evidentes, resultado do baixo salário, excesso de trabalho, sei lá…

Li, conversei e dormitei, até que o comandante anunciou a aproximação para o pouso. Eis que, em pleno curso desse processo, talvez o mais tecnicamente delicado de toda a viagem, o avião sobe de novo. A sensação não foi nada boa. O piloto, delicadamente, mas para mim com uma demora secular, avisou que assim procedera por conta de um “vento de cauda” que poderia desestabilizar a aeronave. Nova volta nas cercanias do Galeão e nova aproximação. Se ateu fosse, e definitivamente não sou, teria me convertido naquele instante.

Pouso normal, taxiamento e nova desagradável surpresa: desembarque “remoto”, aquele em que o “equipamento” estaciona longe dos fingers e a gente vai de ônibus para pegar as malas. Foram mais 30 minutos de espera por elas, mas nenhuma se extraviou, amém! Ao chegar ao hotel, liguei o notebook e no UOL vi que a companhia pela qual havia viajado era uma das mais inseguras do mundo! E nós teríamos de voltar num voo dela mesma. Mas aí é motivo para outro artigo.

 

Valmir Pontes Filho

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Advogado