Morreu na manhã deste sábado, 16, em Fortaleza, a freira, escritora e advogada criminalista, Imelda Lima Pontes, de 93 anos. Conhecida por prestar assistência social e jurídica para pessoas carentes, irmã Imelda estava internada desde dezembro último, no Hospital da Unimed, no bairro de Fátima. A religiosa sofria de diabetes e pressão alta.

Imelda Pontes fazia parte da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria desde 1945. Já na década de 1970, quando desenvolvia trabalhos sociais no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa, atinou para a defesa dos direitos dos pobres.
Aos 41 anos, irmã Imelda ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Acredita-se que ela fosse a primeira freira a se tornar advogada criminalista do País.

Já em 1973, fundou a organização filantrópica “Departamento Direito e Paz (Dipaz), onde prestava atendimento social e jurídico aos pobres. Em 1998, lançou o livro: “O marginalizado também é gente”, onde relata casos que atendeu através do Dipaz.

O corpo de irmã Imelda será velado na Casa Cordimariana, em Caucaia, na rua Coronel Correia, 2718. A missa será às 17h no Convento Cordimariano e o sepultamento será em seguida, no cemitério que fica ao lado, na rua Cel. Correia,2718, Centro de Caucaia.

Saiba um pouco mais sobre a advogada religiosa:

Depois de trabalhar como educadora em colégios da Congregação, Irmã Imelda começou a prestar serviço voluntário em um presídio feminino de Fortaleza. Neste trabalho, ao tentar acompanhar os processos no judiciário, sempre esbarrava na falta de conhecimento das leis. Resultado, aos 41 anos, decidiu prestar vestibular para a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), cuja aprovação mudou sua vida.

O ano era 1970. Época da dura repressão política no Brasil e Imelda conta que fazia resistência ao regime, embora muito discretamente. Foi aluna de grandes juristas, como Paulo Bonavides e, em 1975, um ano depois de formada, abriu, em parceria com o advogado Mauriti Lucena, um escritório para atender exclusivamente as pessoas sem condições de pagar pelos serviços de advogado e, é claro, as presidiárias, motivo pelo qual ela ingressou na universidade.

Com maior dedicação à área criminalista – “acho que sou a única freira criminalista no mundo”, declarou Imelda – o escritório também atendia a causas trabalhistas e de família. É, a irmã, apesar de não fazer divórcios por questões religiosas, não deixava de fazer aconselhamentos aos casais. “Também costumo orientar as mulheres em relação aos seus direitos no caso de estarem se separando do marido”, disse a advogada religiosa, que perdeu a conta de quantos clientes, a maioria mulheres, atendeu no antigo escritório.

Irmã Imelda se definia como uma pessoa feminista, socialista, que carregava um sonho: “o mundo virar, um dia, uma grande área socialista e que todos compartilhem com o seu sonho”. Segundo a religiosa, o socialismo não havia morrido. Ele continuava vivendo nas pessoas que tinham grandes ideais: “Quem implantou o socialismo no mundo foi Jesus, que sempre pregou a igualdade e distribuiu os bens. Ele é a cerne do socialismo”.

Este pensamento foi refletido no escritório da irmã Imelda, localizado numa sala da congregação na avenida Imperador. Entre imagens de Nossa Senhora e de Jesus Cristo, figuravam também fotos de Che Guevara, guerrilheiro e um dos líderes da revolução cubana, e Mahatam Gandi.

Para defender seus clientes, irmã Imelda partiu do seguinte princípio: “sempre parto do princípio que o réu não é culpado. O crime é muito subjetivo. O acusado confidencia comigo todos os motivos que o fizeram praticar o ato e eu vejo se posso alegar o princípio da legítima defesa”.

Entre os casos, a religiosa destacava dois. O primeiro, cujo resultado foi negativo, ela tentou defender uma senhora que havia matado o marido por ele não ter pago as contas da mercearia: “aleguei que era uma questão de honestidade dela, mas perdi a causa”.

O segundo foi uma briga de vizinhas com final trágico. “Minha cliente estava em casa com os filhos e uma vizinha, com quem já estava brigando há algum tempo, chegou ameaçando a família. Ela foi morta pela minha cliente. Consegui absolvê-la usando a tese da legítima defesa”.

Segundo irmã Imelda, as pessoas a procuram para resolver, às vezes, problemas que parecem impossíveis. Para ajudá-las ela conta com a ajuda de vários colegas da área: “Nosso trabalho principal é fazer com que os pobres conheçam seus direitos, lutem por eles, tenham consciência de cidadania. Sou uma apaixonada pelo Direito. Acredito que ele pode ser a solução de muitas injustiças que existem no Brasil”, definiu a religiosa.

Com informações da OAB/CE e dos jornais DN e o O Povo.