por Paulo Maria de Aragão*

Não é de hoje que o homem tem perguntado sobre o fim da vida, certo de que dela se despedirá envolto num mistério humanamente insolúvel. E de nada adianta temor e desespero – “nem choro nem vela” – todos hão de seguir essa viagem, pois a invisível mensageira está sempre à espreita.

Não há motivos para pânico ou preconceito, se a velhice for entendida e vivenciada com naturalidade. Brigitte Bardot, aos 80 anos, expõe todas as rugas e manchas, jamais passou pelo bisturi. Assim, a Vênus francesa, símbolo sexual dos anos 50 e 60, a loura de beleza estonteante, olhos penetrantes e corpo escultural, aceitou a passagem do tempo. Não oculta os anos nem as deformações inexoráveis da velhice, prova viva do ciclo da vida.

A comédia existencial, caracterizada por um conjunto de personagens de um seriado repetitivo, encerra-se de repente, de acordo com o Grande Roteirista. Enfim, todo ser que respira expira, pois a vida e a morte são inseparáveis. Esta não marca o tempo de sua chegada, simplesmente, de rompante, chega e não discrimina o morituro: pode ser pobre ou rico, feio ou bonito; todos são bem-vindos.

A verdadeira riqueza floresce pela prestança, pela solicitude. Não há erro em possuir bens, mas em apegar-se a eles sim. A título de ilustração, há a história do paciente moribundo que chegou ao hospital, com a chave do carro às escondidas, a fim de privar o próprio filho de usá-lo. Talvez o haja feito por acreditar que mortalha tenha bolso e caixão gaveta. Assim, no passamento, às vezes, há mais comédia do que tristeza.

A vida acaba quando menos esperamos. A alegria e sonhos em poucos minutos deixam de existir. Num dia estamos muito bem; entretanto, num átimo, abandona-se o plano físico, sem mesmo se saber como isso aconteceu. O Dia de Finados celebra-se hoje – é o Dia do Amor, “porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca”. Enfim, só se leva desta vida a vida o que se cultivou no coração, sem se olvidar a inevitável prestação de contas no Plano Maior.

É desse modo que a massa organizada volta à matéria bruta, inerte e simplificada: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gênesis, 3: 19). Sem qualquer outra chance, só resta rendermo-nos à natureza das coisas.
Valerá a pena a luta nossa de cada dia, se for apenas por dinheiro e poder? O dia de hoje nos convida a esta reflexão.

(*) Advogado, professor e membro do Conselho Estadual da OAB-CE.

A opinião expressa no artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa a posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE).