O tom da nota pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional sobre as conversas vazadas entre o juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato, dos mais duros que a entidade já produziu, inclusive com sugestão de afastamento de seus cargos do atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do coordenador da força tarefa da Lava Jato, procurador Deltan Dalllagnol, teve participação decisiva dos cearenses no debate que levou à sua versão final. Especialmente na voz de dois dos conselheiros que representavam o Estado, Hélio Leitão e André Costa.

Um dos pontos que gerou mais discussões, numa reunião marcada por elas, centrou-se na escolha do termo capaz de levar à atitude mais conveniente diante da situação. Em resumo, era o caso de “recomendar” ou “pedir” o afastamento dos envolvidos nos escandalosos diálogos tornados públicos pelo site The Intercept? A situação expunha uma promiscuidade entre representantes do Ministério Público e da Justiça, entre acusadores e julgadores, em nível suficiente para colocar em dúvida o respeito àquilo que se exige de básico num processo, que é o distanciamento entre as partes. Ou seja, o que menos se extrai de todas aquelas conversas é algum esforço dos envolvidos de buscar que se fizesse justiça.

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A necessidade de pedir afastamento foi a posição unânime do grupo cearense, também integrado pelo ex-presidente da seccional, Marcelo Mota. O certo é que, ao lado de paraenses e sergipanos, os conterrâneos de Clóvis Beviláqua tensionaram pela adoção de cores mais fortes no documento, como expressão de um incômodo que é de toda advocacia nacional, abstraindo-se qualquer simpatia pessoal ou ideológica diante da situação. Por mais que ela capte, nos seus contornos, um (mau) cheiro de política muito forte.

No final do debate até prevaleceu uma ideia menos extremada, de uma mera recomendação no sentido de os agentes públicos envolvidos serem afastados, mas, apesar disso, o texto divulgado ao público, no geral, sobe alguns níveis no tom da crítica que a Ordem mantinha como padrão dos últimos anos. Um indicador importante de que, na perspectiva de uma turma que se entendia inatingível respaldando-se na nobreza da missão que entendia estar cumprindo em nome da sociedade, boa parte dela estabelecida na bela Curitiba, o jogo está virando.

 

Fonte: O Povo/Coluna Guálter George