Pedi-me do nome, hoje podes chamar-me de tua. Vesti-me de sonhos, com sedas matei e com ferros morri. A letra da canção Balada de Gisberta, de Pedro Abrunhosa, se conecta à história de Dandara e de tantas outras vítimas de violência.

Aos 15 dias de fevereiro de 2017, no Bairro de Bom Jardim, em Fortaleza, um grupo de jovens protagonizou um dos mais brutais crimes contra transexuais no Brasil.

Torturaram a gritos, ofensas, pauladas, chutes, chineladas e pedradas, assassinado, por fim, a tiros a travesti Dandara dos Santos. Tudo isso ficou conhecido duas semanas depois quando do compartilhamento na internet de um vídeo gravado por um dos agressores.

Depois do ocorrido, Dandara foi homenageada diversas vezes: teve uma escultura feita pelo artista maranhense Rubem Robierb, exposta em Nova York (EUA) em 2019 e intitulada de “Máquina de sonhos: Dandara”; o livro “O Casulo Dandara” narra a real história de Dandara e desmente vários comentários falsos atribuídos a ela; e, mas recentemente, a Câmara Municipal de Fortaleza aprovou um projeto, de autoria do vereador Ronivaldo Maia (PT), que denomina uma rua no bairro Bom Jardim de Dandara Ketley. A rua será a primeira do Ceará com nome de uma travesti.

A violência trâns no Brasil tem crescido bastante e chama atenção a crueldade com que é feita. Não bastasse matar, tem-se que aniquilar a alma da forma mais vil possível. Infelizmente, depois de Dandara vieram outras e o número não para de aumentar. Dandara merece e deve ser lembrada como a pessoa boa que era, por suas qualidades e boas ações, mas temos a obrigação de lutar para que o que aconteceu com ela deixe de ser natural em nossa sociedade.

A luta é árdua e Dandara nos ensina que desistir não vale a pena, porque sempre com amor e união podemos construir uma sociedade mais inclusiva e pacífica.

Artigo publicado pelo jornal Diário do Nordeste.

Thiago Alves, membro da Comissão da Diversidade da OAB-CE.