Este ano fez uma década desde a minha primeira participação em uma Conferência das Partes de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, mais conhecida como COP, ainda em 2013. Dez anos depois, tendo participado presencialmente de seis -conferências, desembarquei em Dubai, há algumas semanas, para mais uma delas.

Quando – comecei a trabalhar com clima, lembro bem o desafio de fazer as pessoas compreenderem a gravidade do problema. Todo mundo achava que se tratava de algo distante, impactando apenas ursos polares em geleiras derretendo literalmente do outro lado do planeta. Com 2023 batendo o recorde de ano mais quente da história, as secas na Amazônia e os temporais torrenciais intercalados com ondas de calor em São Paulo, está cada vez mais difícil negar que a crise climática é urgente e afeta a todos, principalmente os mais vulneráveis.

Com o problema estampado em manchetes no mundo todo, a COPo8 aconteceu debaixo de grandes expectativas. A conferência foi marcada por contradições: sediada nos Emirados Árabes (um dos 10 maiores produtores de petróleo no mundo) e presidida por um ex-executivo dessa indústria, tinha como objetivo marcar o início do fim da era dos combustíveis fósseis. E conseguiu. Após intensas negociações, o texto final saiu prevendo a transição para o fim dos combustíveis fósseis, com a meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.

Todos os países voltam agora para casa com uma tarefa a cumprir. No caso do Brasil, é necessário reduzir cada vez mais o desmatamento, em todos os biomas, e promover o reflorestamento e restauração dos ecossistemas, inclusive como uma fonte de renda para a população. Além disso, precisamos ampliar cada vez mais nossa capacidade de eólica e solar, respeitando os direitos humanos e repartindo os benefícios gerados com as comunidades locais.

Essa COP entregou um resultado possível, diante dos diversos, e muitas vezes divergentes, interesses que foram negociados. Se há 10 anos mal se falava de clima, vamos aproveitar a atenção no assunto para cobrar medidas mais ambiciosas de empresas e governos. Ainda estamos distantes do cenário de redução de emissões que mantém o clima no planeta seguro para a humanidade. Contudo, já sabemos que estamos indo na direção certa. Vamos em frente, não há tempo a perder.

Beatriz Azevedo é presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB Ceará e mestra em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford