A Fesac, em parceria com a OAB-CE, realizou nesta sexta-feira, 23, debate sobre o uso indevido de drogas, suas principais causas e consequências, além de apontar medidas de combate efetivo ao uso do crack. Estiveram presentes a psicanalista Rossana Brasil Kopf, com especialidade em dependência química, o psicólogo e psicanalista Odailson da Silva, o deputado federal Artur Bruno, o educador social Del Lagamar, diretor da Central Única das Favelas (CUFA), e o professor de linguística Marcos Antônio.

 

O debate, realizado no auditório da Fesac, fez parte do movimento “Caravana em Favor da Vida”, que conta com o apoio e a participação da OAB-CE e tem o objetivo de, a partir de uma rede informativa dentro das escolas e dos meios de comunicação, motivar a sociedade a adotar uma atitude ante os riscos das substâncias e de diminuição da qualidade de vida do usuário.

 

“Estamos vivendo um momento na história em que não existe um local sequer que não tenha drogas”. O alerta é do psicanalista Odaílson da Silva, acrescentando que pesquisas mostram que os jovens têm entrado no submundo das drogas na faixa de 13 a 17 anos. “O sofrimento do ser humano é ‘resolvido’ com as drogas, por causa da ansiedade e depressão. As drogas resolvem sim o problema da angústia. Paga-se um preço alto, mas resolvem. Os jovens não têm conseguido transformar o sofrimento em crescimento, pois eles não se sentem inseridos na sociedade”, salientou.

 

Segundo ele, o crack instalou no Brasil o que chamou de “ditadura democrática”, pois a lei que impera é a da morte, e abarca toda a sociedade, sem distinção de cor, raça e classe social. “Eu sei que é possível reverter essa situação, apenas não há sensibilidade para o assunto. Temos que voltar a ter sonhos como antigamente e pensar que possibilidades melhores estão por vir”, declarou. Segundo Odaílson, “a OAB-CE merece louvor pela iniciativa, pois a sociedade somos nós que fazemos. Precisamos plantar o bem para estarmos bem próximos de um futuro melhor”.

 

O deputado federal Artur Bruno disse que a sociedade brasileira precisa se unir no combate às drogas, pois estamos num momento muito complicado. “O combate ao tráfico é muito importante, mas não é essencial. Temos que ter políticas públicas para o tráfico, para o atendimento aos dependentes químicos, de ressocialização para que os detentos voltem ao convívio social e também de prevenção. É brilhante o trabalho que a OAB-CE está desempenhando, pois há muitas polêmicas sobre esse assunto. Gostaria de recolher sugestões da OAB-CE para colocar no relatório que vai ser encaminhado à Câmara”, declarou.

 

Por sua vez, Del Lagamar, da Central Única das Favelas, afirmou que os jovens estão cada vez mais inseridos no mundo das drogas e que essa questão, juntamente com o tráfico, é, a cada dia, mais clara e rápida de enxergar. Segundo ele, o trabalho da CUFA está também relacionado à mediação de conflitos, o que inclui a retirada do mundo das drogas de jovens que, muitas vezes, não querem ser ajudados. “É um trabalho muito complicado e cansativo, mas gratificante, pois, quando, mais lá na frente, vemos que as pessoas que ajudamos estão com suas famílias e trabalhando, é uma alegria imensa. Dizemos que é um trabalho de semente: a gente planta aqui para colher bons frutos lá na frente. É possível acreditarmos nas pessoas, pois ou ajudamos ou compartilhamos a dor”.

 

Depoimento do Marcos Antônio

 

“O crack não foi o agravante para mim. O que me afundou foi a doença chamada adicção, que é uma dependência química e possui o mal da compulsão e da obsessão, atuando nas áreas física, mental e espiritual. Em 2007, larguei o curso de Direito na Universidade Federal do Ceará (UFC) por conta do crack. Gostaria de dizer que nunca usei drogas: eu fui usado por elas, pois não conseguia mais ter controle sobre mim. Cheguei a um ponto em que não conseguia passar 30 minutos sem usar a droga. Perdi 22kg num prazo curto de três meses. A pior devastação se deu em outros campos, principalmente no campo mental, quando comecei a ter visões, imaginar que estava sendo perseguido. Eu queria muito sair, mas não conseguia. Cheguei a me internar quatro vezes num hospital psiquiátrico, como louco. Permanecia limpo por alguns dias, meses e depois voltava tudo com mais força. Quando conheci o Odaílson, ele me levou para o Centro de Recuperação Mão Amiga (Crema) e lá eu comecei a viver uma nova vida, pude ter outros conhecimentos e vi que o uso de drogas foi o preenchimento de um vazio. Foi no Crema que passei a ver a vida com outros olhos. Hoje estou há 1 ano, 7 meses e 20 dias limpo, estou vivendo um dia de cada vez com meu lema “Só por hoje”. Consegui mudar essa concepção de descrença. Hoje não consigo ver minha vida sem o poder superior. E tento levar essa mensagem para que passa pela mesma situação que passei. Faz parte da minha espiritualidade hoje ter a mim próprio como principal pessoa, além de ajudar o próximo. Digo que não há distinção, não interessa nada. A angústia e o vazio podem estar dentro de qualquer um. A mensagem que quero deixar é que não caiam nessa, pois é quase o fim. Acredito que com a minha história posso ajudar muita gente e, com isso, trago a minha felicidade. Só por hoje!”.