“Eu lutei por 19 anos e 6 meses para que o meu agressor fosse punido. Ele foi submetido a dois julgamentos e saiu dos dois em liberdade. E, diante da minha decepção com o Poder Judiciário, eu escrevi um livro chamado “Sobrevivi e Posso Contar”. Assim é Dona Penha, mais conhecida como Maria da Penha. Uma mulher aguerrida, que não deixou que os seus direitos fossem apagados e ainda luta para que o de tantas mulheres sejam cumpridos. Maria da Penha transformou, por longos anos, dor em luta e decepção em educação e arte.

A última segunda-feira (19) foi marcada por diálogos sobre empoderamento e saúde feminina e, principalmente, por um bate-papo com pessoas que trouxeram histórias de vida, reforçando a necessidade de seguir nessa corrente no combate à violência contra a mulher. O pôr do sol acolheu ilustres palestrantes que participaram do “Coffee Make”, uma parceria entre a Comissão da Mulher Advogada (CMA) da OAB Ceará e a idealizadora do evento, Lilian Rios, também advogada. Na ocasião, Maria da Penha foi agraciada com uma homenagem pelos 13 anos de sanção da Lei que leva o seu nome, bem como pela importante figura à sociedade, na busca por justiça e proteção às mulheres.

De acordo com a presidente da CMA, Christiane Leitão, a Comissão busca, constantemente, engajar a advocacia feminina nessa causa, no intuito de reverter aos poucos, o quadro da violência no Brasil. “Nós podemos transformar, por meio da informação, a situação deste quadro endêmico que, infelizmente, ainda é muito presente na nossa sociedade. Estamos homenageando não só uma mulher, mas, em especial, a sua trajetória de vida”, afirmou.

Vládia Feitosa, vice-presidente da OAB/CE, ressalta sobre a importância social do encontro. “É essencial que estejamos, constantemente, abordando essa temática, pois são em eventos como esse, com pautas contextualizadas, que ganhamos força e agregamos não só mulheres, mas também homens, no combate à violência”, salientou.

A Delegada de Polícia Civil, Ana Cristina Lima, que também esteve presente no evento, afirmou que a Lei Maria da Penha foi vanguardista no que se refere ao sistema policial e judicial. “O que percebemos nas Delegacias de Polícia é que nós aplicamos a Lei Maria da Penha, no entanto, algumas mulheres se recusam a serem protegidas pela Lei, porque caem na vala do senso comum, de que devem estar mesmo ao lado do agressor”. Além disso, a delegada ressalta a importância da informação e da conscientização de que existe não somente a violência física, mas também a patrimonial, a sexual, a moral e a psicológica. “Essas duas últimas, a moral e a psicológica, não deixam cicatrizes visíveis. Elas formam as piores cicatrizes, que são as da alma, traumas estes que, dificilmente, conseguiremos sanar”, explicou.

Para Leonardo Bezerra, médico ginecologista e professor de ginecologia da Universidade Federal do Ceará, que palestrou sobre saúde da mulher, autocuidado e amor próprio, “a homenagem à Maria da Penha é mais que merecida, por ser um fruto do esforço dela que se estendeu para tantas outras mulheres. Para mim, é importante estar aqui e poder compartilhar, participar e presenciar histórias de vida e de crescimento, tão relevante para todos nós”.

Estiveram presentes: a líder e ativista no combate à violência contra mulheres, Maria da Penha Maia Fernandes; a vice-presidente da OAB/CE, Vládia Feitosa; o secretário-geral adjunto, David Peixoto; o diretor de prerrogativas, Márcio Vítor; a presidente da Comissão da Mulher Advogada, Christiane Leitão; a Delegada de Polícia Civil, Ana Cristina Lima; a nutricionista, Lanna Veras; a jornalista e gestora de reputação de marcas, Mônika Vieira; a diretora-sênior Mary Kay, Francinádia Rodrigues; e o médico ginecologista, Leonardo Bezerra.

Projeto Coffee Make

Para a advogada Lilian Rios, idealizadora do projeto, no último evento, foi possível alcançar o que planejava, por seguir lutando pela causa feminina e, em especial, por ter levantado, mais uma vez, a bandeira de combate à violência contra mulher.

Ela conta que o projeto surgiu em 2017 com o intuito de reunir mulheres para debater assuntos de relevância para o círculo feminino. “O evento foi encorpado pela Comissão da Mulher Advogada durante o triênio 2019/2021, para propiciar às demais colegas e à sociedade, momentos de debate, inclusão e empoderamento”. Para a advogada e membro da CMA, “o objetivo principal é cuidar de nós, como mulheres, promovendo o apoio e o amparo, reafirmando, constantemente, nossa base profissional e emocional”.