UM AMANHÃ INCERTO

 
Paulo Maria de Aragão (*)

Vive-se em um estado de incerteza acerca das ameaças de guerra nuclear, com consequências apocalípticas, somadas às agressões desenfreadas ao meio ambiente (queimadas, devastação, poluição, entre outras). O espaço verde é tomado pelo cinza. Contaminam-se os mares, os lagos e os rios.

O único responsável, o homem, polui, desfloresta e desertifica para, em seguida, ter de se curvar à resposta da natureza, como vista nos terremotos da costa de Sumatra e no Japão.

Anteveem-se desastres ecológicos em face da incessante ação predadora humana. Entrementes, a natureza agredida reage, dando eficácia ao postulado newtoniano da ação e reação. Apesar de sua pequenez diante da sabedoria, o homem, dito racional, supõe-se um deus, uma ilha e despreza o viver efetivo e afetivo, em comunhão na pólis e pela pólis, imaginada por Aristóteles.
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A ficção científica tornou-se realidade ao prenunciar os atuais riscos da humanidade, com a desintegração do átomo. Einstein, mais tarde, confirmaria: “A desintegração do átomo transformou tudo, exceto nossa forma de pensar; por isso, caminhamos para uma catástrofe sem paralelo”.

Assim, o inadequado armazenamento dessa forma de energia e os dramas causados pelo seu mau emprego foram subestimados. Nessa toada, optou-se – quase exclusivamente – pela energia nuclear, que, apesar dos cuidados na sua manipulação, já protagonizou desastres ambientais. Paralelamente, postergaram-se fontes energéticas alternativas oferecidas pela natureza: a solar, a eólica, a das marés, a das quedas d’água.

As florestas estão sendo dizimadas. A poluição da atmosfera, das águas e a radioatividade são sinais inexoráveis da ruína: os derradeiros estertores de um mundo corroído, de uma civilização, a um só tempo, avançada e decadente.

A tecnologia supera os limites da imaginação, fabrica armas letais para destruir o mundo em minutos. Aviões não tripulados, os drones, matam a milhares de quilômetros de distância, tendo por alvo, no momento, os suspeitos de terrorismo, uma espécie de videogame que não estressa o matador.

A insensatez predomina, daí a destruição, a violência global. Nesse contexto, que parece irreversível, conforta abrir a janela da contemplação do que ainda resta na natureza, apreciando-a como nascente de felicidade: o pôr do sol na linha do mar; ouvir e sentir o marulho, enquanto o espumar das ondas esvanece no alvor das areias da praia.

Também enlevam e confortam o recôndito da alma, o arco-íris, a sinfonia dos pardais e o canto dos sanhaçus, dos bem-te-vis e de pássaros em extinção que alegram o alvorecer da metrópole. Entre a massa de concreto e o asfalto, ainda viça o verde, e os beija-flores, livres, gorjeiam e adornam as árvores e os jardins, conformando-se na “selva de pedras”, como se vivessem em seu habitat.

Mesmo sem a utilização de armas nucleares, mas devido às agressões múltiplas perpetradas contra a natureza, explorada irracionalmente em seus recursos, a terra nossa corre o perigo de extinção.

Apesar dos pesares, nesse cenário, os presságios são enfrentados pelos defensores da ecologia, idealistas que lutam por um desenvolvimento sustentável, louvável trabalho voltado para um mundo melhor, somente atingível com a paz; o céu, então, ficará mais azul, e o planeta Terra, mais enverdecido pela clorofila.

(*) Advogado, professor e membro do Conselho Estadual da OAB-CE.