Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a OAB Ceará, na tarde da última terça-feira, (09/03), realizou virtualmente, o evento “A Educação por Elas: Reflexões em tempos de pandemia”. O debate é um projeto idealizado pela Comissão de Educação Jurídica, Comissão da Mulher Advogada, Comissão de Compliance e Comissão de Educação e Cidadania e que trouxe a discussão sobre os desafios enfrentados pela educação brasileira durante a Covid-19 sob visões de mulheres que atuam diretamente no ramo do ensino.

Participaram do evento, a advogada e presidente da Comissão de Compliance da OAB-CE, Jana Brito, a presidente da Comissão de Educação e Cidadania da OAB-CE, Sônia Cavalcante, também a presidente da Comissão de Estudos Constitucionais OAB-CE, Arsênia Breckenfeld, e ainda, a presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB-CE, Vanessa Batista.

Dando início aos diálogos, a advogada, mediadora do encontro e diretora da Comissão de Educação Jurídica da OAB-CE, Lohana Luna, cumprimentou os palestrantes presentes na reunião, saudou o presidente da Ordem Cearense, Erinaldo Dantas, que esteve presente no encontro e que pontuou a situação da desigualdade em larga escala entre homens e mulheres promovidas ainda em tempos atuais. “O dia das mulheres na verdade, não é dia de estarmos comemorando, na verdade, é um dia para todos nós registrarmos a luta pela igualdade pois, ainda hoje há um abismo gigante entre homens e mulheres. É importante reconhecer que aconteceram sim avanços, mas é mais ainda, ter a noção de que nos últimos anos, acompanhamos o aumento nos atos violentos contra as mulheres”, comentou o presidente.

Em seguida, Vanessa Oliveira, advogada e presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB-CE, ressalvou sobre a seriedade em se discutir a presença de mulheres na advocacia brasileira. “Há uma frente feminina bem presente em nossa advocacia, porém, ainda é uma pequena porcentagem, infelizmente. Por este motivo, a discussão do papel feminino no intuito de reforçar os desafios e a luta das mulheres pela inclusão, igualdade em todos os setores, em especial da educação jurídica é de extrema importância”, destacou.

Brena Bomfim, doutoranda em Direito e mestre em Direito Constitucional, pontuou um dado estatístico pertinente ao tema, que evidencia a escassez de mulheres no cenário docente brasileiro. “Em 2012, apenas 38% de mulheres compõem as grades curriculares docentes dos cursos de Direito no Brasil. Nós vemos essa ascensão da mulher na carreira jurídica, porém dentro das faculdades e universidades de Direito, isso já não acontece, e esse é um ponto que deve ser trabalhado ao longo de nosso debate”, explicou.

Propondo uma recapitulação a respeito da história do curso de Direito, a advogada Ana Paula Araújo, trouxe em questão a temática da docência jurídica, tema principal do evento. “Nós temos um maior número de mulheres na educação jurídica enquanto alunas, mas quando subimos na pirâmide, quando procuramos mulheres na posição de docentes, nós somos infelizmente, o menor número. De fato, há um patriarcado histórico que se perpassa desde o início da fundação da docência jurídica, pois no começo do curso do Direito, houve, em enorme escala, a participação efetiva de homens, que naquele momento era sua maioria e onde somente os homens tinham essa possibilidade de atuar como docentes, já em contraponto, as mulheres não tinham nem a oportunidade de entrar nestas salamancas históricas”, destacou.

Seguindo neste fluxo de pensamento em que pouco se propicia o engajamento de mulheres na docência, Raquel Andrade, presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-CE também participou do encontro remoto, reafirmando tal situação. “Nós sequer conseguimos existir institucionalmente, inclusive nas instituições de ensino como universidades, há infelizmente a predominância de poucas mulheres na docência. Os poucos dados que nós temos sobre mulheres negras na educação no Brasil é extremamente alarmante, e acredito que estes eventos devem falar desta problemática, visto que quase 30% dos que ingressam nos quadros da ordem após a aprovação são pessoas negras”, afirmou.

Christiane Leitão, advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-CE, esteve presente no debate e relembrou da essência e da pluralidade da advocacia feminina. “É do eterno aprimoramento e de um estudo continuado que faremos a diferença, precisamos entender que hoje a nossa advocacia, em especial, a advocacia feminina, traz esse recorte da pluralidade. Nós somos muitas, temos vários gostos, afinidades e estilos, e é justamente isso que faz a beleza dessa advocacia em que se propõe a luta da pelo aprimoramento, mas principalmente, pela valorização da nossa advocacia feminina”, pontuou.

Mestre e doutora em Direito Político e Econômico, Mônica Sapucaia destacou a valia da presença de mais mulheres em espaços de decisão. “Segundo a ONU, nenhum país, em 2030, vai conseguir chegar a igualdade de gênero, pois a igualdade de gênero não é uma coisa que nós iremos resolver na vida, não é uma coisa vai acontecer. Na prática, nós só iremos igualizar, só iremos alavancar mais políticas públicas voltadas para este tópico, quando todos nós de uma forma geral entendermos que as mulheres fazem parte dos espaços de decisão. As mulheres fazem parte da solução dos problemas. Nenhum problema complexo será resolvido sem a participação das mulheres, nós não resolvemos os problemas hoje em dia porque as mulheres não estão nos espaços de decisão, e a educação jurídica é este retrato” esclareceu.

Na sequência, Chiquita Howard-Bostic, vice-presidente da Diversidade, Equidade e Inclusão da Sheperd University (SU), reforçou sobre a cautela que precisa se ter para que de fato, se entenda o poder de voz feminino dentro das salas de aulas. “A educação para mim se baseia na ideia que algo que você come e então aquilo lhe dá a energia para você fazer outras coisas e outras atividades; e é desta forma que a educação se canaliza em meu interior. Toda a ideia de ser uma educadora, de fazer as pessoas ouvirem sua voz, de fazer com que estas pessoas lhe respeitem, é como você usa cria todo seu carisma e sua voz, para trazer essas pessoas ao seu redor. Assim, todas nós devemos que ser gratas pelo que temos e humildes também, pois toda elegância e poder que é posta sobre nós todos os dias deverá ficar do lado de fora da porta, para que dentro, exerçamos de forma efetiva nossa missão de ensinar”, afirmou.

Complementando a ideia de encorajamento e força, Ana Flávia Chaves, consultora em Gestão e Educação Digital, destacou tópicos que devem ser observados neste período de ensino a distância. “Nós mulheres estamos neste processo de aprendizagem remota, tendo a oportunidade de virar o jogo. Visto que na hora que migramos para o ambiente tecnológico, nós temos que algo que supera, que é a nossa empatia. A mulher tem essa empatia de forma mais elevada, e a gente só consegue, nesse modelo síncrono, em que temos que estar envolvidos, porém distantes, estarmos juntos, com uma energia positiva. Desta forma não só o empoderamento deve ser trabalhado, mas principalmente a geração de um engajamento, e não se gera engajamento se não se faz aquilo com emoção, com paixão, e a energia a mulher coloca em tudo que faz, é que muda tudo”, comentou.

Alice Bianchini, vice-presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada e doutora em Direito Penal, participou do encontro e destacou a importância de saber aproveitar os recursos tecnológicos durante este cenário pandêmico. “Estamos em um momento difícil, mas a gente tem que saber deste momento difícil e não se desesperar, é uma necessidade da nossa saúde mental, neste momento, estar em ordem. A forma que temos que aproveitar agora que está tudo a distância, onde tudo é virtual, devemos realmente usufruir dos inúmeros recursos tecnológicos que nos foi entregue. Realmente, é muito difícil, mas a gente tem que conversar com todos dentro da nossa casa, e será neste aspecto que irá entrar a educação de gênero para dizer exatamente que a gente precisa fazer essas tarefas sendo divididas adequadamente”, finalizou.